O cinema é uma arte poderosa de comunicação universal, uma forma de entretenimento muito generalizada mas também destinada a educar e doutrinar, podendo tornar-se num método eficaz de influenciar as pessoas, dar-lhes uma outra visão da vida, da família, dos valores, dos hábitos e tradições.
Para os grandes amantes do cinema é gratificante recordar as dezenas de bons filmes que fizeram parte das nossas vidas, horas de deleite mágico face aos écrans, aos grandes planos, às músicas e a todo o envolvimento que nos propiciavam.
Porém, se alguns são sublimes, outros revelaram-se como manipuladores da sociedade, especialmente, nas camadas jovens, menos preparadas para uma atitude crítica e mais disponível para imitar e interiorizar comportamentos.
Pensando em algumas destas consequências vou exemplificar, com um realizador muito conceituado nos seus tempos áureos, não obstante a maioria dos espectadores, (entre os quais eu me coloco), não perceberem muito bem a mensagem dos seus filmes, embora as críticas sempre dessem uma cotação de excelência…
Rainer Werner Fassbinder, nasceu em Bad Wörishofen, uma cidade da Baviera, a 31 de Maio de 1945 e faleceu em Munique, 10 de Junho de 1982, com trinta e sete anos, vítima de uma overdose de cocaína e barbitúricos. Sua morte foi considerada um marco no fim do Novo Cinema Alemão.
Durante a sua carreira, fez 43 filmes, incluindo dois curta-metragens e Berlin Alexanderplatz, com a duração de 15 horas e meia. Fez, em média, um filme a cada 100 dias. Foi também actor de cinema e teatro, cinegrafista, compositor, designer de produção, editor e produtor de cinema e administrador de teatro.
Considerado pela crítica um expoente máximo do Novo Cinema Alemão, formou uma pequena colectividade de produção conhecida como Anfitheatre, a qual dominava totalmente e de forma despótica.
Com um enorme poder e autoridade, aliados a uma capacidade de tomar decisões rápidas e firmes, permitiram-lhe fazer filmes de qualidade de forma rápida e económica. Trabalhava muito e obrigava os outros a trabalharem.
Herdeiro duma infância boémia e permissiva, absorveu a nova cultura da época, irresponsável e amoral, projectando no cinema os três grandes temas dos anos sessenta: a exploração do sexo desinibido em troca de prazer, a violência e as drogas.
A solidão, o medo, o desespero, a angústia, a busca pela própria identidade e o amor não correspondido pelos seus amantes, homens e mulheres, em relacionamentos de características sadomasoquistas.
São temas recorrentes na filmografia fassbinderiana, o desdobramento da personalidade, com as consequentes crises de identidade, de confusões e de traumas. Predominam as temáticas relativas à situação dos “deslocados” na sociedade alemã. Não realizando “cinema gay”, o ambiente e a vida homossexual surge em primeiro plano, em quase todos os seus filmes e algumas de suas obras têm como protagonistas um homossexual, como As lágrimas Amargas de Petra von Kant, A lei do mais Forte e Querelle, baseada na obra Querelle de Brest, da autoria de Jean Genet.
Com um aspecto invulgar para a época, Fassbinder vestia jeans rasgados, camisa aos quadrados, sapatos de cabedal já gastos e uma barba rala. Fumava constantemente, bebia whisky em doses gigantes e para dormir tomava enormes quantidades de comprimidos. A sua dependência da cocaína, teve uma evolução rápida com alto nível de consumo. Em Fevereiro de 1982 ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, mas não ganhou a Palma de Ouro em Cannes nem o Leão de Ouro em Veneza. Foi o princípio do seu fim, gastou 20 000 marcos em cocaína, entregou os direitos de distribuição dos seus filmes em troca de um abastecimento garantido no futuro.