Michel Foucault – um filósofo para pensar e reflectir
Paul-Michel Foucault nasceu no dia 15 de outubro de 1926, em Poitiers, França. O seu pai era cirurgião e professor de anatomia, e os seus avôs (tanto o paterno como o materno) também eram cirurgiões, o que mostra que a medicina sempre esteve presente na sua educação e formação. Porém, o jovem passou a interessar-se por história e filosofia, a contragosto do pai, com o qual não se dava muito bem, contado com o apoio da mãe, por quem o filósofo nutria uma relação muito afectuosa.
Foucault mudou-se para Paris, e iniciou os seus estudos em Filosofia na École Normale da rue d’Ulm , no ano de 1946. Com uma personalidade introspectiva, que se foi acentuando ao longo deste tempo, recusava cada vez mais o contacto com os colegas. Tentou o suicídio pela primeira vez em 1948 e passou a ser acompanhado com avaliações psiquiátricas regulares. Uma das causas que levaram ao problema psiquiátrico do filósofo foi a sua homossexualidade, ainda em fase de descoberta e com a inerente dificuldade de aceitação de si mesmo.
No ano de 1948, licenciou-se em Filosofia e, no ano seguinte, em Psicologia. Tornou-se assistente na Universidade de Lille e terminou o curso de Psicologia Patológica, em 1952. Lecionou e proferiu conferências e palestras em diversas universidades na França, Alemanha, Estados Unidos e Suíça e na Universidade de São Paulo (USP), em 1965 e 1975.
Em 1968, Foucault, assim como Deleuze, Marcuse, Sartre e tantos outros professores universitários, envolveu-se com a luta estudantil deflagrada no mês de maio daquele ano em França.
Publicou várias obras, porém a morte derivada de complicações causadas pela sida, arrebatou-o aos 57 anos de idade. Amado por uns e odiado por outros, Foucault foi um dos filósofos muito aclamados do século XX.
Influenciado por Marx, Freud, Bachelard, Lacan, Heidegger, Nietzsche, Blanchot, Sade e Kafka, entre outros, foi Friedrich Nietzsche o maior modelador do seu pensamento.
A sua obra rompeu com as estruturas tradicionais da Filosofia até o século XIX, essencial e dogmaticamente voltada para a análise estruturada da racionalidade e das suas formas.
No limiar da sua obra, nos finais da década de setenta do século XX, em consequência da busca do desenvolvimento do poder como forma de conduzir a vida, de
regular as populações devidamente disciplinadas, cuidando da
sua saúde, higiene, reprodução, trabalho e produção, segundo os
interesses do poder politico, Michel Foucault utilizou o conceito de “Biopolítica”, na gestão da biologia nos cálculos e nos
mecanismos de controlo da população pelo estado, como uma nova
forma de “poder devolver à morte ou causar a vida”, valorizando
primordialmente a existência do homem como força de trabalho,
isto é, produção de valor económico. Neste contexto, uma vida
só é útil enquanto for sã e produtiva.
Deste modo, torna-se possível legitimar a morte do “outro”, do doente, do degenerado, do anormal, do que já não serve, para que a sociedade fique mais
limpa, mais saudável, mais sadia e mais pura.
Ao Estado é incumbida a função “assassina” através do biopoder, com pretenso recurso a legislação adequada que o converte em tanatopolítico sobre as multidões confusas, seres humanos que lentamente foram sendo adestrados por políticas
de saúde, de alimentação, de educação sexual, de controlo de
natalidade, de sucessivos atropelos à família, ao casamento, aos
valores e à dignidade do ser humano.
Vejamos, por exemplo, a insistência na legalização da eutanásia, a imposição da agenda ideológica na educação e na cultura, com recursos aos órgãos de informação e à televisão estatal, numa militância constante de fragmentação dos valores educativos,
nomeadamente, na transmissão de filmes e de vídeos, supostamente pedagógicos, mas essencialmente manipuladores e colonizadores de ideias e conceitos distorcidos da sexualidade humana, da família e da sociedade.
Nesta perspectiva foucaultiana, a Biopolítica é o conjunto de
mecanismos e procedimentos tecnológicos (saber + poder) que
tem como intuito manter e ampliar uma relação de dominação
da população em todas as vertentes: politicas, económicas,
sociais, familiares, conduzindo o homem a uma subjectividade
redutora, punitiva e mais vulnerável, na medida em que lhe é
retirada a dimensão superior de “Ser Pessoa”, condição de
dignidade humana que lhe permitia a transcendência.
Este ser remodelado pelos planos estatais e ideológicos, constitui
o terreno fértil para que uma nova maneira de governar se possa
implementar, recorrendo ao neologismo “governamentalidade”
ou mentalidade governamental, quer dizer, como o governo
pensa e como quer fazer pensar para homogeneizar a conduta
dos indivíduos e sobre eles reinar sem dificuldades.
Recordemos que o valor do Homem não lhe é dado pelos outros homens, não é uma mera questão de quantidade ou qualidade e, não pode, nem deve, ficar pendente de teorias filosóficas, manobras políticas de tendências opiniões relativistas, subjectivas, ideológicas ou partidárias.
O ser humano é um valor em si próprio, é-lhe inerente, devido ao facto único de ser membro da família humana e ter uma natureza racional. A dignidade está contida no conjunto de valores que caracterizam a humanidade e nos impede de usar o outro homem como uma coisa, objecto ou instrumento para atingir os nossos objectivos.
Ao tomarmos consciência desta realidade, cumpre-nos defender na íntegra, sem o recurso a falsos conceitos ou argumentos tergiversados, que a dignidade nos pertence por excelência, devendo-a exigir, implementar e praticar, evitando que a sua ausência tenha repercussões nocivas em toda a sociedade.
A precaridade da nossa existência, com todas as vicissitudes inerentes e a fragilidade da saúde face às ameaças internas e externas, que colocam em perigo a dignidade do ser humano, implicam uma maior protecção e reflexão sobre as influências que imperam no seio da nossa sociedade, da nossa política e dos seus interesses, os quais nem sempre beneficiam o amparo e protecção do ser humano, no fluir da existência.