Tenho acompanhado com preocupação a ocorrência de dengue em nossa Montenegro e outras localidades onde esse problema praticamente não
existia.
Certamente as autoridades sanitárias estão se empenhando para combater
essa doença e têm à sua disposição as informações científicas necessárias.
Talvez caiba reforçar isso com alguma palavra de orientação em linguagem comum, para que as pessoas tomem conhecimento prático de alguns
detalhes importantes.
Acho recomendável recorrer à experiência de quem convive habitualmente com esse problema há décadas, e é o caso do Rio de Janeiro, estado
e capital. Por aqui, o clima predominantemente quente oferece condições
muito favoráveis à propagação do mosquito Aedes Egypti. Em consequência, a região sofre com epidemias todo ano, especialmente entre os meses de
dezembro e abril.
A partir de maio, a queda de temperatura proporciona uma trégua a cariocas e fluminenses, mas não é garantia contra a ocorrência de casos. E chama
atenção que a dengue esteja se manifestando em regiões do país apesar de
temperaturas inferiores às do litoral sudeste brasileiro.
O sofrimento com surtos mais críticos ocorridos há já alguns anos serviu
como aprendizado e levou as autoridades a adotarem uma série de medidas de combate à dengue. Ruas passaram a ser percorridas com “fumacê”
(pulverização com inseticida) e alguns bairros receberam ação ambiental de
reprodução de variantes estéreis do Aedes Egypti.
Porém, logo ficou claro que apenas medidas do poder público não
bastavam, era como tapar sol com peneira. O planejamento precisava evidentemente da ajuda da população. Iniciou-se então uma campanha de
conscientização sobre medidas domésticas de prevenção, e em alguns casos
medidas drásticas foram necessárias.
Era preciso que as pessoas entendessem que elas devem evitar qualquer tipo de formação de água parada. Precisavam aprender a não deixar
pneus expostos ao tempo. Também precisavam sacrificar algumas plantas
cujas anatomias retinham água, o “copo-de-leite” por exemplo. Assim como
pneus, também estas plantas precisam ficar protegidas da chuva. O mesmo
vale para qualquer tipo de objeto que possa reter água.
Uma situação muito problemática é das piscinas particulares, que precisam receber tratamento com produto para evitar que o mosquito dela se
utilize. Às vezes ocorre desleixo por parte do dono, mas o pior é quando a
piscina, ou algum tanque, bacia e outros recipientes de água estão em uma
residência não-habitada. Nesse caso, não conseguindo localizar o proprietário, as autoridades se vêem obrigadas a forçar entrada na residência para
adotar as medidas necessárias.
Técnicos da Fiocruz me observaram a facilidade com que o Aedes
Egypti se prolifera após uma chuva prolongada, e até mesmo durante a chuva. Ressaltaram também que este mosquito se reproduz em água limpa, o
que me fez deduzir que o Rio de Janeiro tem sido grande exportador de
dengue, via rodoviária : caminhões de carga pernoitam, a chuva forma poças
d’água sobre suas lonas, e aí vem o Aedes depositar seus ovos, que partem
país afora. Acho que caberia alguma orientação aos caminhoneiros, e alguma fiscalização.