Há tempos, após uma lição de história da I Grande Guerra, gerou-se, entre académicos e letrados, breve conversa informal à maneira de tertúlia; e surgiu a questão de haver tantas teorias sobre guerras, estratégias militares e as guerras se repetirem sempre. Veio a questão se seria por não haver teorias de paz e que esta pouco durava. Em grupo mais restrito, a conversa repetiu-se dias depois. Em rigor, as guerras não acabam, mas enxertam-se umas nas outras: acaba uma e já fica outra ou várias a rebentar aqui e ali. É um facto que numa guerra não há vencedores e vencidos, todos perdem. Entre tantos académicos e especialistas de história e de guerras desde a pré-história à idade moderna, não surgiram muitas teorias de paz. Os generais pensarão que não é para isso que os põem à frente de exércitos e os governantes rodeados dos seus partidos e falcões estão programados para a guerra.
Contudo, será correto dizer que não se estudam as teorias de paz nas universidades mundiais? Na verdade vieram ao ecrã vários sites a condizer com o tema. Alguns giravam à volta de uma académica de alto nível nascida na Moldova, Stella Gherva, com doutoramentos, mestrados e pós-graduações, em meia dúzia de universidades internacionais, a qual tem investigado a fundo a história das guerras (cf.https://toynbeeprize.org/posts/stella-ghervas/). Interessou-me o texto em relação com a guerra que agora esmaga a Europa e o mundo. A paixão de Ghervas foi investigar a história da paz à luz da unificação da Europa a partir do princípio de que «as guerras excitam mais a imaginação que os tratados de paz».
A paz não pode ser construída com divisões entre blocos em que uns humilham os outros na derrota, tentação persistente de não respeitar os vencidos e de se lhes impor com poder. Não serão pretensiosos, os que se arrogam donos de tudo quando a terra e o que ela contém é do Dono-criador que de tudo faz dom a todos?
Por coincidência estamos na semana de Pentecostes, em que invocamos o Espírito dador e unificador. Sem se referir ao Espírito Santo, a citada autora distingue “spirits” de guerra e de paz. Os de paz são combatidos pelos “spirits” de guerra. Uns tendem ouvir a todos para coordenar. A história, no sentir de Ghervas, mostra expressões de tendência: “Santa Aliança”, monarquia universal, ordem política internacional, concerto da Europa, “Liga das Nações”, “União Europeia”, nova ordem mundial. Os “spirits” de paz apoiam-se em figuras tutelares, reconhece Ghervas, Robert Schumam, Adenauer, e ainda, penso, as figuras carismáticas: Ghandi, Mandela, Comunidade de Santo Egídio, Papa Francisco e quem mais? Mas outros, por ganância, fabrico e venda de armas contrariam essas tendências de bem comum e abraçam “spirits” de guerra e divisão. E são mais numerosos que as figuras tutelares de paz, escuta atenta de todos. Apesar de tudo, observam-se alguns esboços de teorias da paz em investigação e prática.
Na novena do Espírito Santo, a decorrer, pedem-se dons divinos para ver claro o que é reto e para acertar os caminhos sinodais da paz em todos os quadrantes. O dom maior é o da vida humana; o mais unificador e criador de ordem fraterna. É uma luz e um sentir que promove a vida humana de todos, sem violências destrutivas: aborto, agressões, atentados, homicídios, assassinatos, suicídios e eutanásias. Guerras! Na festa da Visitação de duas mães e dois meninos, a meses de nascer e já a comunicar; e no Dia Mundial da Criança, o espírito da paz e da vida é amigo de crianças e adultos contra todos os infanticídios, abusos e mortes desde a escola do Estado do Texas, à Ucrânia e à Rússia. Esperemos que a União Europeia, cristã, não queira ser máquina de guerras.
Apesar de haver maiorias de oração pelo dom da vida e pela paz, persistem maiorias de morte, de armas e organizações para descartar nascituros, crianças, adultos e pacientes graves.“Spirits” de guerras! Jesus no Evangelho não aprova quaisquer maiorias cristãs contra o dom da vida; só o dom da própria vida por seu amor; e amor aos inimigos e agressores. Jesus sossega os ansiosos por maiorias cristãs, a todo o custo. Não temais pequeno rebanho…Entrai no Reino pela porta estreita (cf. Lc 12, 32 e 13,22-30).