Tive a ventura de ser criado pelo meu pai, Hélio Alves de Oliveira, e pela minha mãe, Dona Adela, na casa da rua Ramiro Barcelos, n.1514, casa essa alugada e pertencente à Dona Olga, que também morava na casa contígua à nossa, do lado direito de quem olhasse de frente . A casa era de alvenaria, arquitetura alemã. O terreno era muito bom e amplo, com um galinheiro na parte dos fundos ,que eu cuidava, contando com uma enorme figueira que abastecia a casa de deliciosos doces de figo nos natais. Lá no fundo tinha lugar até para o meu cavalinho que eu entrava correndo por um corredor bem estreito.
Nessa casa viviam meu pais, minha irmã Celiza (“Ica” para os íntimos, e eu era o “Ico”) e meus queridos irmãos gêmeos, Aurélio e Romélio, que infelizmente já partiram da nossa vida. O irmãozinho caçula, o Adriano, chegou mais tarde, mas já na casa nova, na Capitão Porfírio.
Minha convicção era de que não havia nenhum outro lugar no mundo melhor para se viver.
Nossa vizinhança era uma dádiva de Deus, melhor não poderia haver. Do lado esquerdo da nossa casa tivemos a oportunidade de conviver com a família do Seu ”Licks” (J.Otto Licks), casado com uma mulher maravilhosa, Dona Irma, e que geraram o flho Roque, com o qual eu mais me relacionava, em virtude talvez das nossas idades, e que recentemente também nos deixou. Na época o Roque Licks deu um “peitaço” e migrou para o Rio de Janaiero.
Lembro ainda da Marilaine, da Therezinha, do Rogério e do “Agustinho”(ele era o nenê).
Mas o que me surpreendeu nessa família de Montenegro foi o “DNA” da inteligência saindo pelas janelas de todos eles.
Eu era um assíduo “enchedor-do-saco” no armazém dos Seu Licks, pela sua aconchegância. Não havia supermercados na cidade e tudo tinha que ser comprado no Licks. Bem lembro da inveja que eu tinha quando o Sílvio Gallas, filho do dono da Drogaria Gallas, que ficava em frente, e que certamene era mais “abonado” do que eu, pedia uma coca-cola, daquelas antigas de vidro de 200ml. Nós, os menos “abonados”, babávamos enquanto o Silvio saboreava a coca.
Conta a lenda que nenhum freguês do Armazem do Licks algum dia teria deixado de comprar alguma coisa porque não tinha. O Seu Licks sempre dava um jeito. Se o freguês pedisse um chipp programado para detonar uma ogiva nuclear, seria capaz do Seu Licks remover um saco de sal, outro de batatas, e outros de cebola para então entregar a peça ao comprador.
Em todo o caso não posso deixar de agradecer a ”inspiração” que me provocou a família Licks, e torço que essa família continue dando o máximo de si para melhorar o mundo.