Recolhi alhures, que a “A vida é uma sombra errante; um pobre comediante que se pavoneia no breve instante que lhe reserva a cena, para depois não ser mais ouvido. É um conto de fadas, que nada significa. Narrado por um idiota cheio de voz e fúria”. É uma frase do imortal Shakespeare.
Somos projetados pela luz; a luz elimina a escuridão, torna tudo visível e nos permite ver o caminho. Na escuridão somos apenas um corpo; podem nos ouvir, mas difícil enxergar. Vamos em busca da luz, por mais tênue que seja; pelo caminho, sombras errantes sempre nos acompanharam, mesmo que em sonhos ou fruto da nossa própria imaginação.
Muitas vezes somos colocados em situações delicadas, a exigir uma resposta, um posicionamento. Por nosso pensamento vagam sombras, itinerantes pela dúvida… Por certo que a vida é um grande Palco; somos os atores de comédias e dramas; por momentos somos os falantes principais, por outros os coadjuvantes… Quem poderia narrar nossas idiossincrasias comportamentais, ante as emoções intimas que conosco guardamos, sem lhes dar voz?
Não busco avivar contos de fada; o idiota é um simplório, incapaz de promover juízos de valor. Na etimologia da palavra, idiota significa alguém privado da vida pública; que se retira, não lhe importando a causa pública.
No palco da vida, somente um idiota pode imiscuir-se na vida alheia, tentando narrar a história de personagens alheios ao seu círculo de convivência. Pouco, ou nada sabe, mas arvora-se de arauto da vida dos outros. Então as mentiras começam a campear, muitas ganhando larga dimensão – hoje chamadas de Fake News.
Busco narrar o que pessoalmente apurei ou encontrei respaldo nas cenas retratadas por fotos. Não sou sombra errante a perseguir os que, por escrito, retrato. Quem sabe o passado seja efetivamente um “conto de fadas”. Lembramos das coisas boas e todo o mal já passou.
Lá pelos anos 50 do século passado, até era admitido moças trabalharem em casas de comércio de roupas, fazendas e calçados; entretanto, na atividade industrial, criando riquezas ao bem estar dos semelhantes, o serviço delas era inadequado e não bem aceito.
Cada um tem seus próprios sonhos e alimenta o desejo de concretizá-los um dia. Por outro lado, mesmo no tempo de antigamente, quando este trabalho não era recomendado, a especialidade da atividade manufatureira exigia mãos hábeis e delicadas, próprias do sexo feminino.
E foi assim, na fábrica de Bolinhas de Natal, do senhor Manuel de Souza Moraes (conhecido por “Manequinha Moraes”) as habilidades próprias de moças e mulheres foi por demais necessária. A necessidade e o realizar de um sonho despertou muitas moças à exercer a delicada atividade industrial.
Quase todos os dias, próximo ao meio-dia e ao entardecer, observava duas moças passarem, de bicicleta, por defronte da nossa loja. Fiquei sabendo que elas trabalhavam na fábrica do Manequinha.