Penso que tudo na vida, com o passar do tempo, ganha um sentido mais pleno, amadurecido pela(s) experiência(s) que a própria vida nos proporciona. Aprendemos a ver as circunstâncias e as pessoas com um olhar mais amplo e por isso mais benevolente (pelo menos assim gosto de pensar/ acreditar).
Chegou mais um final de ano letivo e neste ano, parece-me que terminei com o coração ainda mais cheio. Recordo, pela proximidade dos acontecimentos, tantas pequenas peripécias, confidências, desabafos, queixas, alegrias e as inevitáveis despedidas: “boas férias, professora!”.
Ser professora não estava de todo no meu horizonte jovem, de pré estudante universitária. Por essa razão, dediquei-me, com o empenho possível na altura, a ingressar numa boa faculdade para fazer a Licenciatura em Economia. E assim o fiz. Concluí essa meta o melhor que pude, mas o ensino meteu-se, entretanto, no caminho e o “bichinho” das aulas nunca mais me largou. Por estas circunstâncias, costumo dizer aos meus alunos (com algum orgulho), que não fui professora por acaso, mas por opção, porque a dada altura- quando chegou a hora de decidir – o escolhi.
Sou professora do ensino artístico e muitos poderão pensar que aí está a razão da escolha, no conteúdo- maravilhoso por si mesmo. De facto, no meu caso, a Música foi o meio para escolher esta profissão. Mas a verdade é que leciono uma disciplina que muitas vezes é um “calcanhar de Aquiles” para os alunos dos cursos básicos de Música, um pouco como a Matemática no ensino regular. Isso não faz com que se obscureça, porém, aquilo que para mim se sobrepõe à passagem de conteúdos (apesar de tão importante): a relação. Mais do que a melhor explicação dos conteúdos e a escolha dos materiais mais adequados, a relação que se estabelece com os alunos é o que perdura e é o que mais nos define enquanto professores. Pelo menos é o que o tempo me vai dizendo, pela voz e pelos gestos dos alunos que inevitavelmente seguem o seu caminho, mas deixam as suas palavras e o seu afeto.
E qual o segredo para se ser o melhor de nós próprios (no meu caso, professora)? Para mim, o ponto 813 de Caminho ilustra-o da melhor maneira: “Fazei tudo por Amor. – Assim não há coisas pequenas: tudo é grande. – A perseverança nas pequenas coisas, por Amor, é heroísmo.”
Já passei por fases de desalento, por “crises”, mas a vontade primeira e o perceber o quão essa profissão faz parte de mim, fizeram-me entender algo importante para mim: eu não dou aulas, eu sou professora! E é neste trabalho, feito por amor, como serviço, que melhor me realizo.
Oxalá consiga manter, não obstante as lutas, desafios e desilusões, esse querer fazer tudo, sempre, por amor.