(Foto: Larissa, Isabela, Eduarda, Ana Luiza e Fernanda)
“Uma árvore em flor fica despida no outono. A beleza transforma-se em feiura, a juventude em velhice e o erro em virtude.
Nada fica para sempre igual e nada existe realmente. Portanto, as aparências e o vazio existem simultaneamente” (Dalai Lama).
Invoco a cada um dos meus leitores a fazer um retrocesso ao passado, ao seu tempo de juventude. Certamente à lembrança virá o dia-a-dia de estudante; o uniforme: da blusa branca, da saia azul plissada, sapatos pretos e meias brancas. Ou a calça cáqui, camisa verde e um calçar meio díspar, entre tênis, sapato e/ou conga. Também, a dispensa do uso de um uniforme.
A juventude se prolongando desde o curso ginasial ao técnico, clássico ou científico. Como não lembrar as moças a transitar pelas calçadas, deixando antever a beleza de suas feições e o deleite de seu figurino. É a primeira visão do belo, a iniciar um possível encantamento, se reciprocidade houver.
Como esquecer o “footing” dos jovens pela praça, na parte fronteira à rua Ramiro Barcelos. Era o tempo do despertar das emoções; do coração acelerado, dos olhos inquietos ao passar daquela, abrigada nos puros sentimentos da acelerada paixão. Por vezes, investido da suficiente coragem, pedia permissão para junto seguir.
Recordar os bailes nos clubes sociais da cidade e nos tantos salões do interior; as danças – quando no intervalo o pedágio era cobrado, em forma de uma fitinha presa ao casaco/camisa. As boates, onde o “colar” era permitido (o que nos bailes não era visto com bons olhos). O tempo da cuba libre, do gim tônica e da vodca com laranjinha da Sidra, evidente a quem se aventurasse à ingestão da bebida alcoólica, até por ter um dinheiro a mais.
E os matinés, vesperais e sessões noturnas, em um dos dois cinemas locais (Goio-En e Tanópolis). Sentar ao lado, oferecer bala ou pipoca; aguardar o início do filme e o apagar das luzes, para tentar segurar a mão, as vezes com sucesso. Este recordar é mágico; traz ao presente momentos felizes e descontraídos de um tempo em que fomos jovens.
E agora; o tempo correu acelerado e chegamos à idade provecta. O encantamento atual é com os netos, um amor elevado ao quadrado. Para eles o tempo também passa e, de repente, estão se enfeitando para o convívio social, os encontros de amigos… as danças, um sarandeio de pernas e braços agitados, onde não há proximidade de corpos e mãos se acalentando em passos ritmados na cadência da música, dando voltas ao longo do salão.
Num sábado anterior, minha neta Ana Luíza e mais quatro mocinhas vieram, aqui em casa, se enfeitar e preparar para uma festa de aniversário, comemorada no Rancho Herança. O aprestamento demorou quase duas horas; finalmente desceram felizes e vieram até nossa cozinha.
Minha esposa buscou apresenta-las a mim; a metamorfose fruto do tempo e do nosso próprio recolhimento: não bastou dizer o nome e apelido de família; tão pouco a filiação. Esta é neta do Nedson a outra do Dr. Jaime Cardoso; só a Isabela foi identificada como filha do Montaqui, pois a conhecia desde o nascimento. A Eduarda veio morar em Montenegro não faz muito.
Por curiosidade perguntei a minha neta seus espaços de diversão. Passear na casa das amigas, tomar lanche nas badaladas cafeterias, frequentar festas de aniversário, onde também dançam. Bailes, boates (hoje tem conotação pejorativa), reuniões dançantes em casas de famílias, NEM PENSAR.
É o passar do tempo cronológico; mudança – a nossa própria metamorfose social.