Por estes dias, uma amiga perguntou se não poderia escrever algo sobre o aborto. Confesso que o tema não foi nada apelativo. Mas respondi que iria ver se recebia alguma inspiração para conseguir fazê-lo. Comecei por pensar que em vez de escrever sobre o aborto, gostaria mais de escrever sobre a defesa da vida.
Vida, do latim ‘vita’, significa existência. No dicionário define-se como ‘o estado de actividade incessante comum aos seres organizados; o período que decorre entre o nascimento e a morte. Por extensão, vida é o tempo de existência ou funcionamento de alguma coisa.’ Não concordei com esta definição. Pois a vida não começa no nascimento, mas sim na concepção.
Acredito que nada acontece por acaso e neste fim de semana li um breve trecho, de Sophia de Mello Breyner Andresen, que me dá razão: “Deus escreve direito por linhas tortas.
E a vida não vive em linha recta. Em cada célula do homem estão inscritas a cor dos olhos e a argúcia do olhar, o desenho dos ossos e o contorno da boca. Por isso te olhas ao espelho
e no espelho te buscas para te reconhecer. Porém em cada célula desde o início, foi inscrito o signo veemente da tua liberdade, pois foste criado e tens de ser real. Por isso não percas nunca teu fervor mais austero, tua exigência de ti e por entre espelhos deformantes e desastres e desvios, nem um momento só podes perder a linha musical do encantamento que é teu sol, tua luz, teu alimento.” Ora, se já se comprovou cientificamente que ‘em cada célula do homem estão inscritas a cor dos olhos e a argúcia do olhar, o desenho dos ossos e o contorno da boca’ como Sophia de Mello Breyner escreveu, então não entendo como se diz que o aborto não implica morte de uma vida, independente da religião que acreditamos. Mas não quero alimentar polémicas, principalmente relativas à liberdade, nomeadamente a feminina. Prefiro, como escrevi fomentar a defesa da vida, ESCOLHO A VIDA. E para isso recorro a umas sábias palavras do Papa Francisco: ‘Toda a vida humana é ‘única e irrepetível, é válida em si mesma, constitui um valor inestimável.’ Sublinhou ainda, ‘deve sempre ser anunciado, com a coragem da palavra e a coragem das acções. Isso exige solidariedade e amor fraterno pela grande família humana e por cada um dos seus membros’. A vida a ‘que somos chamados a promover e defender não é um conceito abstrato, mas sempre se manifesta numa pessoa de carne e osso: uma criança recém-concebida, uma pobre pessoa marginalizada, um paciente solitário e desanimado ou em estado terminal, alguém que tenha perdido o trabalho ou não consegue encontrá-lo, um migrante recusado ou colocado num gueto…A vida manifesta-se nas pessoas. Todo o ser humano é chamado por Deus para desfrutar da plenitude da vida e é confiada à preocupação materna da Igreja. Toda a ameaça à dignidade e à vida humana não poderá deixar de ter repercussões no coração dela, nas suas ‘entranhas’ maternas. Assim, a defesa da vida para a Igreja ‘não é uma ideologia’, mas ‘uma realidade humana que envolve todos os cristãos, precisamente porque o são, mas fundamentalmente porque são humanos.’ Além disso, ‘os ataques à dignidade e à vida das pessoas infelizmente continuam mesmo na era nossa era, que é a era dos direitos humanos universais; de facto, somos confrontados com novas ameaças e nova escravidão, e as leis não protegem a vida humana, principalmente a mais fraca e vulnerável.’
Acredito que há situações muitíssimo complicadas. Mas infelizmente o aborto não as resolverá, apenas irá criar outros problemas, nomeadamente nas mães que abortam. Portanto o início da solução começa por fomentar a defesa da vida em qualquer circunstância. ‘Não devemos deixar que a humanidade seja envenenada pelas toxinas do egoísmo, do individualismo, da cultura actual da indiferença e do desperdício, e com isso perca o seu próprio ADN, que é o espírito de acolhimento e serviço”, afirmou, mais recentemente, o Papa Francisco.