Que toda história tem no mínimo dois lados, eis uma verdade primária que nenhum foquinha de redação tem o direito de ignorar. E não há maneira mais torpe de ocultar um dos lados da história do que contá-lo sempre desde o ponto de vista do outro, sem deixar que ele se mostre aos leitores por si mesmo, com sua própria face e suas próprias palavras. Isso é pseudojornalismo da mais grossa espécie.
Pois bem: o conservadorismo norte-americano, que está no poder e vai ficar lá por mais pelo menos uma geração, sendo portanto uma das forças políticas mais decisivas no mundo, só é conhecido do público brasileiro pela versão que dele apresentam seus inimigos do Partido Democrata ou mesmo da extrema esquerda. Isso é assim, inalteravelmente, há pelo menos vinte anos. Na nossa mídia, jamais o ponto de vista dos republicanos, conservatives e libertarians é mostrado em si mesmo, no original, para que os brasileiros façam dele um juízo baseado em conhecimento direto. Com exceção do que se passa na imprensa dos países comunistas, não conheço outro caso de ocultação preconceituosa tão geral, tão sistemática, tão infalível.
No entanto, seria errado atribuí-la exclusivamente ao viés esquerdista imperante nas nossas redações. Uma curiosa conjunção de acasos, aí, ajuda o esquerdismo a mentir com inocência. É que, ao relatar o que se passa num outro país, qualquer jornalista toma instintivamente como padrão de aferição a grande mídia desse país. Se o que escreveu está de acordo com o que ela disse, ele acredita ter dado um relato fidedigno e dorme em paz com sua consciência. Ora, acontece que a grande mídia norte-americana é toda clintoniana ou mesmo abertamente pró-esquerdista. Se dependesse dela, George W. Bush não seria presidente da República, e Osama bin Laden, se não chegasse a receber homenagens públicas, seria ao menos absolvido como vítima da sociedade. Isso quer dizer que, para um jornalista brasileiro tapar o acesso do público a metade da história e nem perceber que está fazendo isso, basta que ele se atenha ao que saiu no New York Times, no Washington Post, na CNN etc.
O que estou dizendo parece contraditado pelo fato de que Bush tem um dos mais altos índices de aprovação já alcançado por um presidente norte-americano. Aparentemente, ninguém pode conseguir isso sem o apoio dos gigantes midiáticos. Mas aí é que está a diferença. Nos EUA, pode. É que a grande mídia das capitais, lá, não é tão grande quanto a daqui, proporcionalmente. Seu poder inegável é contrabalançado pelo da imensa rede de jornais do interior, cuja força não tem equivalente em nada do que existe no Brasil. Cada pequena cidade americana tem dois ou três jornais de alta qualidade, além de meia dúzia de estações de rádio e TV. Se os conservadores enfrentaram e venceram o poder dos gigantes, foi entrincheirando-se na mídia local, manejando com habilidade os recursos da internet e criando organizações de media watch que, provando com métodos científicos o viés esquerdista das notícias, acabaram por desacreditar a mídia milionária perante grande parte do público e dos anunciantes. Outra coisa que os ajudou foi a rede de agências que distribuem artigos pelos pequenos jornais de todo o país. Aí um colunista vetado na grande mídia pode acabar tendo mais leitores do que as estrelas maiores do NYT ou do Post. É o que acontece com Thomas Sowell e David Horowitz — para o meu gosto, os melhores.
Os jornalistas brasileiros — uns por safazeza, a maioria por ignorância genuína — desprezam esses fatos e, quando contam a história por um só lado, acreditam não estar fazendo nada de desonesto. Contra essa ilusão de uma consciência demasiado fácil de apaziguar, deve-se lembrar que a verdadeira idoneidade jornalística não se contenta com aparências verossímeis. Ela duvida de si, vai ao fundo, busca testemunhas ignoradas e deixa que elas falem. Se entre os jornalistas brasileiros ninguém faz isso no que diz respeito aos conservadores americanos, é porque cada um, no íntimo, teme conhecê-los: pode acabar gostando deles. É fugindo de conhecimentos indesejáveis que o preconceito adquire o poder de um dogma.
Se você não tem medo de conhecer, salte a barreira. Vá direto às fontes. Eis aqui as principais, que estão na internet:
Jornais, revistas e agências:
Townhall (http://www.townhall.com),
National Review (http://www.nationalreview.com), WorldNetDaily (http://www.worldnetdaily.com),
Newsmax (http://www.newsmax.com),
Drudge Report (http://www.drudgereport.com),
The Washington Times (http://www.washtimes.com),
Human Events (http://www.humaneventsonline.com).
Doutrina e polêmica:
The New American (http://www.thenewamerican.com),
The Federalist (http://www.federalist.com),
Common Conservative (http://www.commonconservative.com).
Cultura e idéias:
Reason (http://www.reason.com),
The Weekly Standard (http://www.weeklystandard.com), Front Page Magazine (http://www.frontpagemag.com),
Jewish World Review (http://www.jewishworldreview.com), Enter Stage Right (http://www.enterstagerigth.com),
The Weekly Standard (http://www.weeklystandard.com),
Insight Magazine (http://www.insightmag.com),
The Dartmouth Review (http://www.dartreview.com),
Excellent Thought (http://www.excellentthought.net),
Intellectual Conservative (http://intellectualconservative.com),
Accuracy in Academia (http://www.academia.org).
Think Tanks:
The Claremont Institute (http://www.claremont.org),
The Heritage Foundation (http://www.heritage.org),
Cato Institute (http://www.cato.org).
Texto publicado na edição de 18 de Janeiro de 2003 de O Globo
Media Watch:
Media Research Center (http://www.mediaresearch.org),
Accuracy in Media (http://www.aim.org),
Honest Reporting (http://www.honestreporting.com), Conservative Truth (http://www.conservativetruth.org/index.php).