“Façamos das antigas memórias
As grandes armas da esperança
E tiremos das doces lembranças
A matéria-prima para novas histórias!”
(Lucas Ferreira)
Antes de iniciar meus escritos, sempre vou em busca de uma epígrafe ao texto. Muitos dizem que, ao chegarmos a uma idade provecta, tornamo-nos saudosistas, em busca das antigas lembranças, as quais nos foram caras. São as memórias de cada um (muitas delas já estão sendo catalogadas em sites pelo Patrimônio Histórico local).
Então, recuo no tempo. Nos últimos anos, o cais do Porto das Laranjeiras vem sendo apresentado como o cartão postal da cidade. Nos meus tempos de juventude, buscávamos o rio para tomar banho e aprender a nadar – a escada do Renner – era o local ideal, onde ficávamos escondidos, longe dos olhares estranhos – medo – pois tomávamos banho escondido dos pais.
O rio também era o lugar próprio para pescar lambari e depois de limpos, assá-los em um fogo-de-chão (o Davi Griebeler, meu vizinho de frente era o mestre-cuca). O rio servia de cais ao embarque e desembarque de produtos coloniais, mercadorias e lenha. (Montenegro – Porto Alegre e vice-versa).
O rio era um lugar de festa, especialmente a de Nossa Senhora dos Navegantes; do cais baixo os barcos saiam levando os devotos e visitantes ao Porto dos Pereiras, onde a festa efetivamente acontecia. A área superior do rio abrigava os grandes armazéns e atacados, além das empresas de navegação, além da colossal fabrica do Renner. O transporte fluvial era uma constante; materiais de construção e mercadorias chegavam e saíam pelas gasolinas.
Pouco a pouco a área do rio foi sofrendo modificações. Empresas que cerraram suas atividades, novas atividades produtivas no grande espaço e o intenso movimento proporcionado pelo Frigorífico Renner. Muitas e muitas vezes fui ao varejo do Renner comprar gaitinha, patê e carne de porco. Sempre atendido pelo Bebeto, Nico Schú e Bira.
Início dos anos 80 do século passado; o Renner entra em concordata; o prédio da antiga usina está em completo abandono, habitada por bêbados, indigentes e marginais. Não é uma frase com conotação depreciativa, mas a transcrição de uma dura e inquestionável verdade.
Com a falência, sobrou o esqueleto do majestoso prédio; A edificação desativada da usina começa a ser reformado e finalmente passa a abrigar a Câmara Municipal de Vereadores. Os políticos/administradores volvem o olhar para o cais do porto Uma calçada ao seu redor começa a ser edificada e a ganhar embelezamentos.
Os guindastes, usados no retirar areia dos barcos, são desativados e a pista asfáltica sobrevém mais limpa. O prédio do Poder Legislativo oferece certa magnitude à paisagem, a despeito do antigo prédio do Packing House, depois Corlac e Aripé encontrar-se em petição de miséria.
Finalmente o arcabouço do que restou do edifício fabril do Frigorífico Renner vem abaixo. A luta para a sua restauração foi inglória. Toda a estrutura do empreendimento passa a ser ocupado pela Brigada Militar do Estado e nasce a escola de preparação de soldados.
O Cais se torna vitrine a emoldurar as águas de um rio que corre, dividindo a terra, criando as margens. Os montenegrinos passam a utilizar o local como área de lazer e descanso. Oxalá a beleza que aos olhos descortina, seja condignamente preservada e o cartão postal retratado pelo belo panorama se nos oferece.
Por derradeiro, meus cumprimentos ao amigo Dante Efrom, o grande articulador a retratar em belíssimas fotos a majestade de um rio, emoldurado pelo seu velho cais (inaugurado em 1904); isto ao tempo do Centenário do Município.