Romaria é palavra derivada de Roma. No princípio, significava uma viagem de peregrinação a Roma, centro da vida cristã. Depois, o seu significado estendeu-se a qualquer santuário. Como normalmente essas viagens eram feitas em grupos, também utilizamos hoje a palavra para designar uma multidão. Com o passar dos tempos, e o avançar do cristianismo, as peregrinações estenderam-se a outros lugares de culto.
Aqui, na Península Ibérica, Santiago de Compostela é o local mais antigo de peregrinações, que continua a atrair romeiros de todo o mundo. Foram-se espalhando de tal maneira que já não era preciso haver um santuário, que tanto podia ter a imponência de uma catedral, como Compostela, como podia ser uma capelinha como a Senhora da Saúde, aqui em Fontela, ou apenas a imagem do Santo Padroeiro dentro da Igreja, como o nosso São Pedro ou o nosso São Paio. E aí já não dizíamos romaria, porque não saíamos da terra, dizíamos as Festas. Mas essas festas mantinham e mantém ainda o antigo sentido de romaria, atraindo à terra aqueles que viviam longe dela, mas nunca deixavam de vir pelas Festas. E, é claro, desde muito cedo, a par do caráter religioso juntou-se o aspeto profano.
Em tempos antigos, em que as diversões eram poucas, ou inexistentes, porque não aproveitar esses ajuntamentos para encontrar namorado, ou para namorar quem já tinha e, por fim para se fazer negócio? Na nossa literatura mais antiga, nos séculos XII, XIII e XIV, floresceu um tipo de poesia a que se chamou Cantigas de Amigo, em que o poeta-autor, sendo homem, se assumia como rapariga, ou amiga, falando do seu namorado, a que chamava amigo. Daí o nome desse movimento literário, que durou de 1198 a 1385. Muitas dessas cantigas são chamadas de cantigas de romaria ou de santuário, poemas encantadores que só existem na literatura portuguesa. Mostram a rapariga que vai ao santuário pedir o regresso do amigo que anda a combater os mouros ou agradecer o regresso dele, ou simplesmente para se encontrar com ele.
Apresento uma cantiga de Pedro Viviães, de quem pouco se sabe, a não ser que seria um nobre que viveu por volta de 1270. É uma delícia, esta cantiga, que mostra o entusiasmo e a alegria das meninas, que decidem acompanhar as mães que vão pagar promessas, acendendo velas (candeias), enquanto elas bailarão perante os amigos, em cós, isto é, sem manto, que estarão a observar (cousir) a beleza e elegância delas.
Pois nossas madres vão a S.Simão / De Val de Prados candeias queimar
Nós as meninas punhemos d’andar/ Com nossas madres, elas então
Queimem candeias por nós e por si/E nós, meninas, bailaremos i.
Nossos amigos todos lá irão/ Por nos ver e andaremos nós
Bailando ant’eles formosas em cós/ E nossas madres, pois que lá vão
Queimem candeias por nós e por si/ E nós, meninas bailaremos i.
Nossos amigos irão por cousir / Como bailamos e podem ver
Bailar i moças de bom parecer/ E nossas madres pois lá querem ir,
Queimem candeias por nós e por si/ E nós meninas bailaremos i.
Pedro Viviães (autor)