Uma nova vida humana começa no momento em que toda a informação contida no espermatozoide do pai se junta à que é fornecida pelo ovócito da mãe. Neste momento todo património genético, tal como o seu sexo, ficam definidos no novo ser que começou a existir.
Neste primeiro estádio, que não é uma quimera, nem uma abstracção ou mera ideia, o embrião humano já é um organismo, um ser vivo unicelular que se irá dividir em células que comunicam entre si quimicamente organizadas, num processo contínuo até ao feto.
A genética sabe que um embrião não é um amontoado de células, que é um ser vivo que se desenvolve e produz hormonas que interrompem o ciclo menstrual da mãe e começam a preparar os seus seios para a amamentação. Esta é a realidade biológica e todas as evidências científicas defendem o mesmo. Não podemos estar ao nível da opinião, de ideologias ou interesses económicos e políticos.
Se alguns legisladores permanecem na fase de não saberem se o embrião é ou não um ser jurídico, uma pessoa que ainda não tem estatuto, ou algo similar, colocando-os numa situação de impasse ou de dúvida, pois que se recorra então, ao prudente princípio de precaução, tão elegantemente exercido em favor da inocência do réu, in dubio pro reo (em caso de dúvida proteja-se o inocente), neste caso a vida do embrião, esse pequeno e indefeso ser, que antes de o ser, será condenado à morte pelo facto de não saberem ou não quererem aceitar o que ele é na realidade.
Todos os seres humanos são pessoas, ao longo da história só os escravos não foram considerados pessoas.
“O pequeno filho do Homem, é um homem em pequeno”.
Contrariamente ao que defendem os que têm interesses particulares na indústria do aborto, a gravidez não começa quando o embrião se aloja na parede do útero, nidação, mas sim na fecundação.
Pelo facto de o novo ser vivo precisar dum ambiente adequado para se desenvolver e depender completamente da mãe, não altera em nada a sua dignidade nem lhe podem ser retirados os seus direitos, pois ele está alojado no útero materno, o que não o torna num órgão da mãe.
Não estamos a falar de eventuais preconceitos éticos, religiosos ou morais, mas sim a clarificar a visão da ciência, a qual tem vindo a ser abafada pelos especialistas do controlo de natalidade, pelas multinacionais interessadas nos lucros advindos da pratica do aborto, dos governos que sem olhar a meios impõem os seus fins eugénicos e de toda uma agenda rigorosamente elaborada para aplicar a cultura de morte, com a maior eficácia possível.
Os promotores do aborto seguem a perspectiva neomalthusiana do controle demográfico e actuam por meio de vários grupos: associações profissionais médicas e jurídicas, órgãos de assistência social, ‘lobby’ de políticos a nível nacional e internacional e não raramente por meio de centros de poder, dos mass-media” e de outros organismos que actuam também no sentido da promoção e tentativas na imposição do aborto.
Controle demográfico aliado aos interesses das instituições que promovem o aborto, a esterilização e a anticoncepção transformam-se num meio de dominação política sob a aparência de planeamento familiar.
Preocupado com a realidade destas alterações, Grégor Puppinck, jurista, diretor-geral do Centro Europeu para o Direito e a Justiça e também perito da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) e do Conselho da Europa sobre liberdade religiosa, reflectiu no seu livro “Os Direitos do Homem Desnaturado” sobre as grandes mudanças antropológicas de cariz laicista. Também no “Meu Desejo é a Lei”, analisa o contraste entre o conceito de Direitos Humanos, em 1948, fiel defensor da biologia humana, e as ideologias recentes que adicionam novos direitos, como o direito ao aborto o qual implica a negação do direito à vida, o direito à criança, negando o direito da criança a ter pai e mãe, etc., violando, colidindo e tentando ignorar a realidade biológica.
Estas recentes tomadas de posição reflectem a ambição do homem, que considera o direito de se transformar e superar-se, ser criador de si próprio ou decretar a morte do próximo. Nesta perspectiva, o critério da justiça é completamente relativista, não respeita a lei, recorre a um novo processo dialéctico, impondo a solução que considera mais avançada de acordo com os desejos individuais ou dos poderes que representam.
Ao perdemos esta imagem, perdemos a revelação do que nós mesmos somos e sem uma visão do que é o Homem refugiamo-nos numa busca de poder e de prazer que se integra numa atitude ateia, materialista, evolucionista, negativista e vazia de sentido.
Expoente máximo de um mundo, laicizado e desumanizado, onde paulatinamente se foram derrubando todos os ancestrais conceitos da tradição antropológica, esta “miragem” ideológica é o reflexo do desejo individual infinito, sob forma de um novo totalitarismo de cariz eugénico onde o desejo e a ambição se tornam lei, neste caso, pena de morte.