Convivi durante a minha juventude numa cidade do interior gaúcho com dois “borrachos”para ninguém botar defeito.. Eram amigos inseparáveis. Excelentes pessoas. Um de origem alemã, o “Lalau”; outro descendente de italianos, o “Gringo”.
Ambos pertenciam à classe social média superior. Eram profissionais, cada qual na sua área, extremamente capacitados. Mas eles não conseguiam resistir ao chamamento de uma boa “pinga”.
Os dois amigos jamais haviam tido antes um só desentendimento durante os diversos anos de relacionamento e consumo daquela “maravilha”.
Mas num certo dia, era um sábado, a “dupla” passou dos limites habituais. Foram para o “clube” bem antes do meio dia e começaram a “maratona”, alternando bebidas destiladas das mais variadas com vinho e cerveja. E continuaram nessa prática a tarde inteira. Chegaram a ficar “bêbados”, o que normalmente nem conseguiam mais, de tanto que bebiam.
Os amigos inseparáveis beberam tanto nesse sábado, que no início da noite, bêbados, tiveram um desentendimento qualquer, ocasião em que o “Gringo” se dirigiu ao “Lalau” e lhe disse:”: Sabes de uma coisa,”Lalau”,você é um bèbado”!!!
Adicionada a história do relacionamento “pinguço”do Lalau e do Gringo a um trecho da letra da música “Homem com H”, magistralmente interpretada por Nei Matogrosso, “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, evidentemente teremos em mãos matéria prima suficiente para interpretar com exatidão a “polarização”da eleição presidencial de outubro próximo, entre as candidaturas de Jair Bolsonaro e Lula da Silva, especificamente no que tange aos seus respectivos apoiadores e eleitores.
Ora, os “bolsonaristas” deram um apelido bem na medida ao candidato Lula, que certamente tem muito de verdade:”encantador de burros”. Mas e o outro candidato, Jair Bolsonaro, não seria também “encantador de burros”? “Fanáticos” se vê de ambos os lados.
Essa acusação “bolsonarista” sobre os “burros” que apoiam Lula, não estaria na mesma situação da acusação que o “Gringo” fez ao seu amigo (de bebida), o “Lalau”?
“Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, não seria exatamente a situação com a qual os brasileiros se defrontarão nas eleições de outubro? Não estaria na “cara” que o “recheio”com os inúmeras outros candidatos presidenciais significa o mesmo que “encher linguiça” para dar aparência de verdadeira a uma falsa democracia?
Qual eleitorado “burro” vencerá em outubro?
Meu temor, sinceramente, é que Nelson Rodrigues tenha acertado quando “compôs” as frases segundo as quais (1)”a maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a maioria da humanidade”, e que (2)”os idiotas vão tomar conta do mundo, não pela capacidade, mas pela quantidade, eles são muitos”.
Será que o Brasil estaria afastado dessa nefasta conclusão de Nelson Rodrigues? Que a idiotia e a burrice não seriam ideologias políticas porque elas próprias, a idiotia e a burrice, seriam em si mesmas as “ideologias”, independentemente de qualquer tendência política de “esquerda”, “direita”, “centro”, ou outra qualquer? Que a burrice tem primazia sobre as ideologias políticas nas democracias deformadas?