Esta interpelação é um estímulo, um incentivo para todos aqueles que se quedam no cansaço, no desânimo, na constatação das suas incapacidades ou limitações, na maior das tristezas ou falta de esperança perante a realidade dos factos. Mas este repto, este desafio que pode vir de algum(a) líder carismático(a), orador(a) motivacional, ou algum(a) profissional da psicologia ou do desenvolvimento pessoal, é o início do ponto 834 do Caminho, este livro maravilhoso da espiritualidade cristã.
São Josemaria Escrivá, autor daquele livro, viveu tempos conturbados durante toda a sua vida. Homem de têmpera firme, dotado de um sentido de humor impagável, possuidor de espírito visionário em vários campos, foi um homem que soube amar de uma forma extraordinária todos aqueles com quem se cruzava, ao olhar de forma amorosa para a vida de Jesus, perfeito Deus e perfeito Homem.
Soube inspirar com o seu exemplo uma infinidade de pessoas nos cinco cantos do mundo a transformar todas as circunstâncias das suas vidas em ocasiões de amor, orar e louvar a Deus e, desta forma, a viverem e encontrarem a liberdade dos filhos de Deus. Ah, como eu gosto e aprecio essa liberdade! Como é reconfortante e inspirador saber que todos, sem exceção, fazemos parte de uma mesma família porque temos um Pai que nos ama até à loucura e que é capaz de fazer maravilhas em nós, mesmo com todas as sombras, imperfeições e limitações que nos caracterizam, assaltam a nossa alma e dominam os nossos comportamentos.
“Ânimo! Tu…podes.- Vê o que fez a graça de Deus com aquele Pedro dorminhoco, negador e cobarde…; com aquele Paulo perseguidor, odiento e pertinaz.[1]“
Mas este ânimo que incentiva a prosseguir, porque tudo é possível para os filhos de Deus, não por causa de qualidades excecionais que alguns possam ter, mas porque para todos aqueles que se inspiram, apoiam e procuram a graça de Deus é-lhes oferecida a possibilidade de realizar coisas extraordinárias em Seu nome, porque tal qual bom empreendedor(a) ou empresário(a) transforma e multiplica os recursos, também nós com o pouco ou muito que oferecemos, com os nossos talentos, dons e também os defeitos, surpreendemo-nos com o trabalho de Deus que nunca se vence em generosidade.
Este ânimo, para aqueles que reclamam a sua filiação divina, não torna a vida isenta de dificuldades, mas confere uma confiança, uma certeza, um estímulo, que quem já experimentou conheceu tão bem. Mas como é possível ter ânimo, confiança, esperança nestes tempos tão conturbados de guerras inesperadas, pandemias improváveis e desastres extraordinários? Parece insanidade, utopia, loucura. Mas “há maior loucura do que lançar aos punhados o trigo dourado na terra para que apodreça? – Sem esta generosa loucura não haveria colheita.”[2]
E porque o mundo precisa desta loucura e porque tu e eu só precisamos de ser
“instrumento; de ouro ou de aço, de platina ou de ferro…grande ou pequeno delicado ou tosco…-Todos são úteis: cada um tem a sua missão própria”. E por isso, Ânimo! Tu… podes…
[1] Ponto 834 in Caminho
[2] Cf ponto 484 in Caminho