Vamos lá a ver. Eu não conheço a família Mesquita Guimarães, não sei nada mais deles do que o que vejo na televisão e nas redes sociais. Tenho filhos na escola pública, frequentam Cidadania e Desenvolvimento, embora procure estar atenta ao que se vai passando por lá. Sou daquelas que se deixa ir mais ou menos com a corrente.
Acho que somos do mundo. Deus criou o mundo para nós e é nele que nos devemos situar e encontrar. Detesto só dar um beijinho e não acho que nos bastamos e que cada um deve estar no seu quadrado. Não sou daquelas que acha que é melhor mãe do que a minha vizinha, que porque tento levar uma vida próxima de Jesus sou melhor, decido melhor e tal. Sei lá, essas cenas que se dizem por aí.
Acrescento previamente que nem me parece que o pai Mesquita Guimarães “funcione” muito bem em termos televisivos e que, se calhar, a cada aparição perde pontos, em vez de os ganhar.
Compreendo que a escola pública é um tesouro a guardar e que, apesar de todos reconhecermos mil imperfeições, percebemos também que é difícil mudá-la. A escola, seja ela pública ou privada, é aquilo que os seus professores forem. Quanto mais professores bons tiver uma escola, melhor ela será, porque um bom professor procura, questiona, questiona-se, luta, seja numa escola pública, feia e degradada, seja num colégio privado. Um bom professor pode fazer a diferença.
Para além disso, compreendo que todos nós precisamos de um sistema educativo que funcione, que ensine, que avalie. Compreendo que alguns pais possam preferir que seja a escola a tratar de determinados assuntos, porque todos andamos meio exacerbados à procura de mais liquidez para financiar tecnologias, viagens, explicações. Não podemos tomar conta de todos os assuntos. A escola que mostre ao meu filho o que é o mundo, como reciclar, o que são direitos humanos, como lidar com o namoro. Compreendo. A vida é veloz. Somos atropelados e confundidos. Não é fácil vir à tona respirar e sobreviver à ondulação.
Posto isto, embora não saiba se estes pontos prévios foram, de facto, elucidativos, apetece-me dizer que defendo a liberdade dos pais poderem decidir se querem ou não que os filhos frequentem a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. E não compreendo como é que as mesmas pessoas que defendem a liberdade de escolha no Aborto, na Eutanásia, na mudança de sexo, achem ultrajante que uns pais lutem pela liberdade de escolha de frequência de uma disciplina como Cidadania e Desenvolvimento. Para dizer a verdade, eu até me repulsa eu própria estar a colocar estes temas na mesma equação, como se fossem comparáveis.
Então é assim, uma jovem tem uma relação sexual com um rapaz, sabendo que de uma relação sexual pode surgir uma vida, mas tem a liberdade de decidir abortar porque ainda é adolescente e não quer “estragar” o seu futuro. Um adolescente pode alterar o seu género, porque tem a liberdade de decidir se é menino ou menina. Mas uns pais, informados e com provas dadas na área, não podem decidir que não querem que os seus filhos sejam educados em temas da identidade de género e da sexualidade na escola, por professores que não conhecem de lado nenhum e que mudam constantemente?
Uma professora amiga respondeu-me recentemente que estamos sempre a bater no tema da identidade de género e que já parece uma fixação. Afinal é tudo dado ao de leve, também falam de Direitos Humanos e de Reciclagem. Pois, muito bem. Mas eu, como mãe, responsável pela educação dos meus filhos, não posso optar por não querer que um estranho fale com os meus filhos sobre assuntos que me cabem a mim e ao meu marido falarmos? Raios. Raios para a liberdade de escolha que só serve para o que apetece.
Porque é que a luta dos Mesquita Guimarães mete raiva a tanta gente se a luta deles não interfere com a liberdade de ninguém. Ao que sei, não pretendem acabar com a disciplina, só lutam para que ela seja opcional. Ora se ela é tão boa quanto falam, será escolhida pela maioria e não haverá alterações de fundo. Ou melhor, haverá, pois os coitados que não a frequentarem serão seres humanos mais imperfeitos do que os demais, mas têm esse direito, não têm?