Sou uma católica meio trapalhona. Daquelas que precisava de saber mais, de ouvir mais, de fazer mais e melhor. Mas, mesmo assim, trapalhona, resolvi escrever sobre o dia-a-dia de uma mãe com a melhor profissão do mundo (há uma boa parte de mim que não acredita nisto)- doméstica- e que, ao mesmo tempo, veja-se a ideia, tenta cumprir um plano diário de oração e de santificação (o estado de loucura é tal que penso poder vir a ser santa!).
Como qualquer mãe com vários filhos pequenos, há uns anos da nossa vida em que o plano de vida é “os nossos filhos”. De manhã, acordam-nos muito cedo, quase madrugada, e a nossa oferenda é recebê-los sem resmungar.
A oração é a ouvir algum áudio / podcast, por entre pedidos e canecas a bater. Se paro, escondida nalgum canto, depois de algumas insistências, lá tenho de aparecer para acalmar a tempestade. Se decidimos, estar todos sentados, a desenhar, para haver um pouco mais de sossego, há sempre um que faz um risco que lhe parece uma obra de arte e tem de me mostrar.
A presença de Deus é feita das minhas tentativas de manter a boa cara apesar das roupas espalhadas, das migalhas pelo chão, das desobediências, das respostas tortas e das brincadeiras com tudo o que não é brinquedo. É feita dos sorrisos pelas piadas, pelas travessuras, pelas ideias de que nunca nos lembraríamos. O Angelus, ao meio-dia, chega. Dias pontuais, dias atrasados, partilho com o mais velho que estiver à mão.
Pela tarde, a leitura é assim-assim sonolenta. Uma santa moleza. Os sussurros do Evangelho que entram devagarinho, aos bochechos. Vale ler como quem vê um filme.
Se consigo Missa, é top. Lembro-me que por volta dos dezoito anos, se pensava em ir à missa todos os dias, também me lembrava como iria manter o gosto, sem desistir. Parecem aquelas questões que nos assaltam quando pensamos em casar ou quando temos um filho e iniciamos a amamentação. Como conseguir todos os dias? Depois, vai sendo literalmente um dia de cada vez.
Não consigo missa todos os dias, mas quando consigo, com algum dos meus filhos ou com todos, que alegria. Sinto como se tivesse conquistado o mundo.
Pela noite, rezamos o terço. Uns rezam a trocar sorrisos, outros andam de triciclo ou sobem sofás, uns rezam a pentear a mãe, mas estamos juntos e até o mais pequeno sabe bem a “música” do terço.
Oferecemos o dia. Estou tão cansada. A última luta é deitá-los sem fazer má cara e sem parecer que os estou a empurrar, sem mostrar o desespero de quem já não tem mais para dar e precisa de parar.
Gratias. Deitada agradeço o dia ter sido normal. A normalidade, às vezes, sufoca-me, anseio pela mudança, pela aventura que nos desconstrua, mas, no fundo, ela também me salva para um doce sossego. Paz.