Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.
Em Fernando Pessoa uma realidade transcende os próprios versos, oferecendo uma digna lição de vida, a nós outros, pobres mortais. Devemos seguir nosso destino, comprometendo-nos com a natureza. As plantas e as rosas, são simbólicas; o que importa é o todo – devemos cuidar do meio-ambiente, assegurando a vida aos nossos pósteros.
Hoje, as flores e as plantas estão disponíveis à venda, nas floriculturas e supermercados e outras diversas lojas. As casas foram substituídas por apartamentos; já não há mais jardins. Nas ruas principais de nossa cidade, os prédios pré-fabricados ganharam os espaços, acotovelando-se uns aos outros. Os arranha-céus ganharam altura maior e os espaços naturais vão minguando cada vez mais.
Como sempre, volto ao passado, lembrando com muito agrado os sábados em que os bailes da primavera aconteciam à noite. Durante o dia era um corre-corre no apronte da roupa, engraxar os sapatos e buscar um cravo ou rosa para enfeitar a lapela do casaco.
As cores variavam ao gosto do jovem, entre o branco, vermelho ou rosa. O importante é que fossem flores naturais. Minha preferência sempre foi o cravo branco encimado em uma roupa preta. Pela vizinhança os jardins eram abundantes e facilmente se conseguia. Muitos já deixavam encomendados por antecedência.
Lá por casa, a mãe plantava margaridas, copos de leite, junto à pequena sanga que atravessava todo o terreno, e estatísticas (que nós chamávamos de “estatistas”). A vovó Frida era uma grande cultivadora destas flores, as quais vendia, principalmente nos finados.
Você já se perguntou sobre quem lhe faz sombra? Para você mesmo a resposta é negativa; teria que ser inconsequente, leviano, como projetar objetivos e, ao mesmo tempo, considerar-se um derrotado, sem nem tentar buscar os meios para os alcançar. Um alguém que se volta contra si mesmo.
Quem lhe faz sombra são as árvores dos outros, traduzidas pelo ciúme, despeito e rivalidade. Quantos belos pares rodopiavam pelo salão, no compasso da música? Quantos daqueles você invejou pela elegância do traje, pela destreza ao dançar e pela beleza da moça que conduzia?
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam. (Fernando Pessoa)