Nome completo, Oswaldo Gonçalves Cruz, conhecido internacionalmente como Oswaldo Cruz, nasceu no interior de São Paulo e morreu na cidade imperial de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro. Ele foi inicialmente médico, depois tornou-se bacteriologista, especializou-se como epidemiologista e, finalmente, exerceu a função pioneira de sanitarista, no Brasil. Como médico, ocupou-se da saúde humana, tratando e curando doentes, como bacteriologista, ele estudou as bactérias que provocam graves enfermidades nas pessoas, e como epidemiologista, consagrou-se ao estudou da distribuição dos fenômenos de saúde e doença, de seus fatores condicionantes e determinantes, e dos contágios que atingem muitas pessoas, em um certo território e durante um determinado período.
Quanto a sua função de sanitarista, Oswaldo Cruz foi o pioneiro a exercer os cuidados de saúde pública com o objetivo de proporcionar a nós, brasileiros, um estado de boa disposição física e psíquica. Por isso, dedico este texto a nosso ilustre congênere. Sabemos que o cientista não tem tanta popularidade como devesse ter, então, vamos suprir essa falha procurando saber um pouco mais sobre ele; seu pai era médico e já sob o regime republicano, chegou a inspetor-geral da Inspetoria de Higiene; enquanto isso, Oswaldo também cursava a Faculdade de Medicina, começou aos 15 anos, em 1887, e graduou-se em em 1892, com o trabalho de conclusão intitulado “A veiculação microbiana pelas águas”.
Antes de concluir o curso, já tinha publicado dois artigos sobre microbiologia na revista “Brasil Médico”. Interessado pela microbiologia, Oswaldo montou um pequeno laboratório no porão de sua casa, mas teve de interrompê-lo devido à morte de seu pai. Entretanto, dois anos depois, a convite de professores, começou a trabalhar na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, onde tornou-se responsável pela montagem e pela chefia do laboratório de análises clínicas. Alguns anos depois, já em 1897, Oswaldo Cruz viajou a Paris, onde permaneceu por dois anos estudando microbiologia, soroterapia e imunologia, no Instituto Pasteur; foi discípulo de professores ilustres e reconhecidos, também nas áreas de medicina legal e de toxicologia.
Essa estada em Paris foi fundamental para seu desenvolvimento científico, pois o Instituto Pasteur era uma instituição de vanguarda, pioneira no estudo da biologia dos micro-organismos, das doenças e das vacinas. Interrompo aqui esta narrativa para que se examine um pouco o termo “vacina”; seu registro etimológico remonta a 1801 e nos informa que a palavra vem do latim vaccinus – “da vaca” – o agente infeccioso foi historicamente recolhido nas pústulas das mamas das vacas e depois foi inoculado no ser humano para preservá-lo da varíola. A situação ocorre em fins do século XVIII, quando a doença foi fortemente transmitida aos homens, e quando, consequentemente, o médico de campanha inglês, chamado Edward Jenner, implantou a primeira “vacinação”.
Retomamos nossa pequena biografia de Oswaldo Cruz. De volta ao Brasil, Oswaldo reassumiu seu cargo na Policlínica Geral e juntou-se à comissão que começou a estudar a mortandade de ratos, em Santos, a qual gerou um surto de peste bubônica. O cientista demonstrou, então, que a epidemia era incontrolável sem o emprego do soro adequado; como a importação era demorada, propôs ao governo a instalação de um instituto para fabricá-lo.
No Rio de Janeiro, assumiu a direção técnica do “Instituto Soroterápico Federal”, que se localizava na Fazenda Manguinhos; . A instituição, sob o comando do barão de Pedro Affonso, proprietário do Instituto Vacínico Municipal, foi fundada em 1900. Dois anos depois assumiria a direção do instituto e trabalhou para ampliar suas atividades para além da fabricação de soro antipestoso, incluindo a pesquisa básica aplicada e a formação de recursos humanos.
No ano seguinte, em 1901, chegou ao comando da Diretoria-Geral de Saúde Pública. À época, nosso país era assolado por diversas moléstias infecciosas e, para combater essas epidemias, Oswaldo Cruz decidiu enfrentar as principais doenças que empestavam a capital federal, tais como a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. Para isso, adotou métodos tidos como drásticos por outros médicos – que os criticavam – como o isolamento dos doentes, a notificação compulsória dos casos positivos, a captura dos vetores, como mosquitos e ratos, e a desinfecção das moradias em áreas endêmicas.
Sua base era o Instituto Soroterápico Federal, no Rio de Janeiro, de onde deflagrou campanhas de saneamento e, em poucos meses, a incidência da peste bubônica diminuiu com o extermínio dos ratos, cujas pulgas transmitiam a doença. Por outro lado, o combate à febre amarela tornou-se mais difícil, já que grande parte dos médicos e da população acreditava que a doença se transmitia pelo contato com as roupas, o suor, o sangue e as secreções de doentes. Entretanto, Oswaldo Cruz acreditou sempre que o transmissor da febre amarela era um determinado tipo de mosquito.
Naquele tempo, o método tradicional de combate à febre amarela era através da desinfecção, a qual foi suspensa por Oswaldo Cruz e quando ele implantou, no lugar, medidas sanitárias com brigadas que percorriam as casas, eliminando os focos dos insetos. Devemos ressaltar a forte reação das pessoas contra esse procedimento, e sobretudo a recusa crítica expressa pelos seus colegas médicos. Pode parecer-nos incrível, mas a negativa desse procedimento que buscava a saúde das pessoas provocava intensa discórdia entre seus pares!
Além disso, a população, apoiada pela imprensa e pelo Congresso, manifestaram-se contrários à vacinação em massa que Oswaldo pretendia promover: chegaram a organizar uma “liga antivacinação”! Em novembro de 1904, a situação ultrapassou os limites e eclodiu uma rebelião popular que ficou conhecida como a “Revolta da Vacina”, promovida por um grupo de oficiais da Escola Militar da Praia Vermelha.
Enfim, essa implacável oposição foi derrotada pelo governo de Nilo Peçanha, o qual pacificou aquela grande desordem ao suspender a obrigatoriedade da vacinação. Mais adiante, já em 1907, a febre amarela foi erradicada no Rio de Janeiro e em 1908, quando emergiu um novo surto de varíola, as pessoas imediatamente procuraram os postos de vacinação mais próximos. Durante esse período conturbado, Oswaldo Cruz não deixou de partir em uma expedição de trinta portos marítimos e fluviais de Norte a Sul do país, entre 1905 e 1906, para estabelecer um código sanitário dentro de regras internacionalmente já comprovadas.
Sua postura de enfrentamento às doenças ganhou reconhecimento internacional em 1907, quando Oswaldo Cruz recebeu a medalha de ouro no 14º Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim, na Alemanha, pelo trabalho de saneamento do Rio de Janeiro. Além disso, ele reformou o Código Sanitário e reestruturou todos os órgãos de saúde e higiene do país. Em seu retorno ao Brasil, em 1908, Oswaldo foi recebido como um verdadeiro herói nacional e, em 1909, o Instituto Soroterápico Federal, em Manguinhos, no Rio de Janeiro, e que fora fundado por ele em 1900, como um pioneiro no estudo de moléstias tropicais, passa a ser chamado de Instituto Oswaldo Cruz e é, hoje, a Fundação Oswaldo Cruz, respeitada internacionalmente.
Ainda em 1909, para poder se dedicar inteiramente a seu trabalho no instituto em Manguinhos, Oswaldo deixou a Diretoria Geral de Saúde Pública. Já em 1910, combateu a malária durante a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, no Norte do Brasil, em Rondônia, e a febre amarela, no Pará. Em 1913, foi recebido pela Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira número 5. Devido a problemas de saúde, abandonou a direção do Instituto Oswaldo Cruz, em 1915, e mudou-se para Petrópolis, onde foi eleito prefeito em 1916, mesmo ano em que ajudou a fundar a Academia Brasileira de Ciências.
Chegou a traçar um vasto plano de urbanização da cidade, que acabou não sendo construído: ele renunciou ao cargo devido ao agravamento da nefrite de que sofria há alguns anos. Para terminar, saudemos, então, este brilhante cientista nacional; Oswaldo Cruz, sem sombra de dúvida, merece nossa reverência a seu trabalho e a sua perseverança no objetivo de cuidar de nossa saúde, brasileiros como ele, felizmente!