Há alguns dias alguém proferiu umas palavras que me fizeram pensar e que muito me entristeceram. Passo a citar; “O meu pai partiu para a casa do Pai . Escrevia e tinha guardado pastas com cópias de artigos, jornais…, mas nada seu publicado em livro. As casas hoje em dia são mínimas e torna-se difícil guardar toda a documentação”. Aconselhei-a a publicar em livro o que escreve, caso contrário acabará, possivelmente, no lixo. Não porque não queiramos mas por força do destino.
Se publicar, podem sempre perdurar numa biblioteca. Saí do local um pouco angustiada. Mas a observação fazia sentido. Nada é eterno! Publicar em suporte de livro, ou não? Guardar cópias para quê? Está bem, é bom para o currículo! Mas quando se tem alguma idade faz falta? E o legado cultural para deixaram aos mais novos? E quem não tem família! Confesso que senti como se morresse um pouco ainda em vida, fruto destes pensamentos que também me fizeram recordar o desapego das coisas materiais. Tudo tem valor. Ao escrever um artigo de opinião faço-o com os olhos colocados em Deus. Rezo pelos meus leitores sejam família ou não. Logo, logo, já darão fruto.
Imbuída nestes pensamentos toca o telemóvel. Uma sobrinha muito querida vinha-me convidar para uma caminhada e almoçarmos juntas. Foi-se a tristeza, veio a alegria da partilha, do carinho, da companhia. Que boas que são as relações entre gerações. Aprendemos e transmitimos também. No percurso, no meio da cidade, debaixo de uma árvore, sentadas num banco, falámos durante tanto tempo que fomos almoçar muito tarde. Falámos de quê? Do que nos ia no nosso coração. Do que nos preocupava, de histórias de família, do luto da sua mãe e minha irmã que agora velava por nós no céu… Quando fomos almoçar referi que íamos celebrar a vida, apesar de todos os constrangimentos vivenciados e a vivenciar, apesar dos nossos modos diferentes de pensar e de sentir, unidas através dos laços familiares onde todos têm um lugar. Estávamos felizes. E a tranquilidade e a paz veio na certeza de que Deus é Pai e vela por todos nós.
No dia seguinte outra sobrinha que atravessa um momento difícil devido a uma doença inesperada do seu marido e meu sobrinho, e que a todos muito preocupa, convidou-me igualmente para fazermos uma refeição ligeira na sua hora de almoço. Também uma caminhada. Depois de um almoço frugal, enquanto caminhávamos referiu a sorte que tinha em ter bons e verdadeiros amigos. Todos de algum modo, colaboravam neste momento mais complicado que vivenciava. Acrescentou que é diferente das relações de trabalho que, algumas vezes, se revestem de diferentes interesses, nem sempre gerando uma amizade verdadeira e desinteressada que quer ser útil e almeja o bem do outro. Acrescentei que estava inteiramente de acordo com as suas palavras tão reais e sentidas. Também feliz pelo suporte que usufruía dos amigos e família. Todos são importantes e ajudam a mitigar a dor sentida pela doença do ente querido.
Hoje ao acordar apercebi-me através das redes sociais que se celebrava o dia do filho. Senti alguma nostalgia. Os meus já tinham saído de casa para construir a sua vida, o seu futuro. Uma mãe apesar de querer o melhor para os seus filhos sente a sua ausência. A família ajuda a mitigar essa ausência. Também a família alargada e os amigos. A vida, com os seus diferentes ciclos, torna-se, na verdade inconstante e temos de encontrar estratégias para superarmos os constrangimentos que se nos apresentam.
E, quando a solidão e a idade pesam por força das diferentes circunstâncias e bom recordar as palavras do Papa Francisco: “Uma velhice que é consumida no desânimo das oportunidades perdidas causa desânimo a si próprio e a todos… A nossa vida não se destina a fechar-se em si própria, numa perfeição terrestre imaginária: está destinada a ir mais além…Somos imperfeitos, desde o início, e continuamos imperfeitos até ao final dos nossos dias. Em suma somos aprendizes da vida na terra, que em meio de mil dificuldades, aprendendo a apreciar o dom de Deus, honrando a responsabilidade de o partilhar e de o fazer frutificar para todos. Na verdade, o nosso lugar estável, o nosso ponto de chegada não é aqui, é ao lado do Senhor, onde Ele habita para sempre!”
Esta verdade que tanto nos conforta, na certeza de que Deus permanecerá para sempre na nossa companhia, também que é um Pai que vela por nós na terra em todos os momentos da nossa vida, dá-nos ânimo para não nos inquietarmos e mantermos sempre a esperança, continuando a lutar todos os dias em prol de uma sociedade justa, humana e solidária e, sobretudo, do bem da nossa Família e de todas as Famílias, principalmente as que mais precisam do nosso apoio e oração. Santa Maria, Rainha da Família, intercedei por todos nós. Concluo assim este artigo denominado:”A Sobrevivência do Coração Está em Deus”.