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Ciranda da Vida – Estrada

  • Agosto 28, 2022
  • Cultura
  • Ernesto Lauer

                                     

                                     Na procissão dos caminhos,

                                     quando a paisagem desfila,

                                     ficam marcas nas pupilas

                                     dos cansaços e lonjuras;

                                     Na distensão das planuras

                                     em que repecham lamentos

                                     estradas são como tentos

                                     tirados da imensidade

                                     onde se apeia a saudade

                                     que vem na anca dos ventos.

                                     (Glaucus Saraiva – Estrada)

 

A minha colega Maria Luiza é filha de Glaucus Saraiva da Fonseca; brindou-me com livro de poesias do ilustre poeta, professor, historiador, entre alguns outros. Quando lembro da trajetória minha e de tantos outros, vislumbro, como na estrofe da poesia Estrada, a quantidade de caminhos e encruzilhadas ao nosso seguir despontaram.

Conversei com uma professora de matemática e disse, quando guri, pretendia ser engenheiro. Nos muitos terrenos de chão batido, existentes por aí, brincava com carrinhos, construindo garagens para abriga-los e estrada ao seu trânsito. Uma miragem do pensamento infantil; quando fiquei sabendo era a matemática matéria basilar do curso e profissão de engenheiro, desisti de perseguir a carreira.

O brincar de carrinho foi uma paisagem a marcar uma imberbe vontade. Segui a vida e foram muitos cansaços pelas lonjuras percorridas; da brincadeira ficou uma marca em minhas pupilas, pois a tenho nítida a minha frente ainda hoje.

Tentos são tiras de couro; no verso, as estradas são como tentos, tirados da imensidão. Que cada um faça sua própria reflexão do tamanho dos tentos a enlaçar sua existência. A imensidão é o simbolismo da lonjura que já percorremos pelas estradas da vida. Hoje é tempo de cirandar a saudade, na anca dos ventos que povoaram nossa existência.

Lembro da estrada de ferro, a servir de caminho ao trem Caxias. Em muitos e muitos domingos e feriados, bagagem pronta, seguíamos na Maria Fumaça até Campo do Meio e/ou Santos Reis. Era dia de visitar os parentes, comer comida de Kerb e tomar banho no arroio. O descortinar de uma nova paisagem: o campo, as árvores frutíferas, morro, animais e plantações.

A saudade sempre reponta minha existência, neste seguir a estrada da vida. O compartilhar os momentos felizes de um tempo de antigamente, mas ainda muito presente; sinto-me gratificado, por notar, quantos outros, trilharam caminhos semelhantes aos fatos descritos.

Muito pouco viajei em trem Minuano; num destes percorri a maior distância: de Porto Alegre a Uruguaiana, com baldeação em Santa Maria, a um encontro da Associação de Alunos e Ex-alunos Maristas. Lembro, como um devaneio mental, do seguir por quilômetros e quilômetros, com ampla liberdade para percorrer os vagões e comer alguma coisa no carro restaurante.

Na estação de Montenegro, a alegria de viajar era contagiante; os guris, que conosco esperavam pela chegada do trem, sentiam o mesmo entusiasmo. Corriam pela plataforma de embarque, pedindo ao pai que comprasse pastel ou sonho, ofertados pelo pasteleiro, acondicionados na grande cesta de vime que consigo trazia.

Realmente a saudade se apeia na garupa dos ventos da imaginação; por caprichos mentais podemos viajar através do tempo e alcançar a nós próprios, num estágio em que a vida se anunciava como perene. (…) “O meu céu já está tordilho/ e a vida pela metade/ mas por ancestral vontade/ eu sigo domando estrada/que é a minha alma estirada/ entre o adeus e a saudade” (parte final do poema Estrada).

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