(…) “Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.” (…)
Busquei a epígrafe do meu texto na poesia: “As Sem-Razões do Amor”, de Carlos Drummond de Andrade. Por que falar de Amor na tardia idade cronológica da vida? Justamente porque o Amor é Amor, que se basta a si próprio e brota n’alma. Foge a dicionários e a regulamentos, por semeado no vento ao tempo qualquer da existência.
Poderia falar em flores, pelas tantas que povoaram os caminhos, por nós percorridos, ao estágio de tempo presente. Flores estão em minha lembrança, a emoldurar o sentimento de amor celebrei à jovem por mim escolhida, a seguir o destino traçado em comunhão de sentimentos, com arcabouço para a constituição da família – até hoje guardamos presente.
Assisti amigos ao cortejar de moças, por muitas experiências até o Altar do compromisso matrimonial. Quantas e quantas vezes vaticinei o enlace de casal em profundo acolhimento amoroso. Por quantas e quantas vezes errei no meu vaticínio. De repente, a relação rompia; lagrimas rolavam, promessas aconteciam, em vão: cada um seguia seu caminho e, mais adiante, novo amor encontravam.
Creio que cada um de nós tem um amigo de antigamente, na lembrança de uma ruptura amorosa; conheci um, por sinal bastante próximo, que enchia a cara, chorava e reclamava, incomodando os amigos com suas lamúrias; os episódios se repetiam: faziam as pazes e voltavam a brigar; a choradeira se repetia, até o enlace final; cada um seguiu o seu caminho e novos amores encontraram.
Num canto dos meus alfarrábios encontrei um escrito, encimando poesia que escrevi. No crepúsculo acendes o lume/ o crepitar das fagulhas/ a taça ergues alhures/ homenageando o néctar dos Deuses/ aqueles que no Olimpo imaginário habitam. Comungo contigo: o dia, o frio e o vinho, que hoje troco pelo chá!
O lume chega da lareira, aquecendo os românticos ao seu entorno; eles guardam recordações de momentos apaixonados de uma outrora feliz. Dos invernos que juntos passaram, ouvindo o crepitar das fagulhas, que ainda povoam suas mentes. Não o crepúsculo dos dias de inverno; as lembranças chegam ao anoitecer paulatino das existências.
O amor contagiante a permanecer imutável ao correr dos anos; o amor como alicerce de seres um dia perdidamente apaixonados. A paixão arrefece; enquanto o amor permanece; um vínculo de cumplicidade, de lembranças, a recordar um tempo de juventude.