Segunda-feira. Setembro ainda não acabou. O depósito do carro está outra vez vazio. O frio apareceu e a inflação não está com ideias de abrandar. O mundo está atribulado. E aquela amiga com quem tanto falo decide mandar-me, logo pela manhã, um texto sobre humildade, sobre reconhecer os dons dos outros. Para mais, o podcast das minhas manhãs também se dedica ao mesmo assunto. Não pode ser.
A minha amiga deve-se ter enganado no destinatário ou então mandou para todos os contactos da lista dela. Eu? Soberba? Orgulho? Quando a apanhar no recreio…
Quem é que se lembra de chatear uma pessoa com estes temas? Só alguém que nos conhece, sabe onde dói e sabe que não a vamos esganar na primeira oportunidade.
Ser humilde é tramado. Por alguma razão se diz que o orgulho morre 72 horas depois do corpo. Como é que podemos sobreviver as mazelas do dia-a-dia, fazer felizes os outros e ainda perceber progressivamente que somos tão pouco e tanto ao mesmo tempo? Que os outros, mesmo os que nos irritam, que estão do outro lado da barricada, que nos dizem umas coisas feias de quando em vez, mesmo esses, receberam dons incríveis de Deus? Esses são como eu, como os demais, fazem umas quantas certeiras e outras tantas tão ao lado.
Deus fez tudo em equilíbrio. Deu-nos dons incríveis, dos quais só o próprio Criador se lembraria, mas também permitiu que, na nossa total liberdade, possamos escolher fazer uma tremenda asneira, criticar, pensar mal, não ouvir, desprezar.
Nesses momentos, o melhor é, na presença de Deus, rir de nos acharmos tão incríveis, pedir ajuda para aprender e para pedir desculpa, se for esse o caso. Nada temeremos, nem o nosso orgulho. Rimos juntos dele, aprendemos a conhecer-nos e a apanhar algumas asneiras um pouco antes de as fazermos.
Talvez ainda haja esperança para o meu caso. Tenho a certeza que há uns tempos atrás, teria ficado de trombas, teria amarrado o burro. Hoje, falo Contigo e rimos juntos. Conheces-me tão bem e, com a Tua ajuda, mesmo com o mundo ao contrário, a manteiga a 2,50€ e aquelas cenas que me custam tanto a engolir, Contigo, arregaço os mangas e “levo o dia numa boa que para a frente é que é Lisboa”.
“Como ensina Jung, “o importante não é ser perfeito, o importante é ser inteiro. “Os pequenos triunfos dão-nos fortaleza para olhar as grandes humilhações, e as dificuldades vividas dão-nos humildade para viver os triunfos” José Tolentino Mendonça
Obrigada, amiga, na muche.
Escrever é fácil!