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Ciranda da vida – Casas de comércio

  • Outubro 11, 2022
  • Cultura
  • Ernesto Lauer

No espaço-tempo

os eventos passados

sempre guardam lugar.

Dos antigos armazéns

conhecimento e lembrança

comigo sempre estarão.

 

Na Montenegro de antigamente, muitas eram as casas de comércio espalhadas pelo município. Dentre elas, os armazéns se sobressaíam. A cidade era bem servida no ramo de secos e molhados, praticamente existindo um em cada quadra. Variavam em seu espaço interno e sortimento. Uns vendiam de tudo, outros só comestíveis, armarinhos e algum tecido.

Os produtos chegavam ao armazém, acondicionados em sacos de aniagem, com capacidade para 50 quilos cada. Depois eram distribuídos nas tulhas de madeira. Elas eram feitas de tal forma que, uma vez fechadas com um tampo, o freguês podia sobre elas sentar e tomar uma cerveja ou aperitivo.

Nos armazéns, um pedaço do balcão era revestido com pedra de granito e uma pia embutida, para lavar os copos. As miudezas eram dispostas em paneleiros ou em espaços abertos, para que os fregueses pudessem facilmente enxergar e manusear. Sempre aos fundos destes armazéns havia um depósito, para a guarda do estoque, antes das mercadorias serem dispostas aos olhos dos compradores. Os comerciantes vendiam a caderno, para pagamento mensal.

Como a cidade era pequena, praticamente todos se conheciam e o comerciante mais ainda, pois sempre bem informado. O fiado era baseado na palavra, “no fio-do-bigode”, como se dizia antigamente. Quem ganhava o caderno era bom pagador; o bodegueiro não “botava prego sem estopa”. Por uma eventualidade, podia até atrasar o pagamento, mas isto era facilmente resolvido, com acréscimo de módicos juros ou parcelamento.

Aos bons pagadores prêmios. Ao saldarem a conta do caderno, ganhavam brindes, como latas de talco, sabonetes e cosméticos (gumex, brilhantina, antisardina, extrato Aras, por exemplo). As crianças sempre recebiam um pouco das famosas “balas pretas” (caramelos), que segundo o comerciante eram boas para a tosse.

A clientela do fiado era selecionada; aos demais algumas placas e quadros indicativos, onde se lia: “FIADO SÓ AMANHÔ; “EM MATÉRIA DE FIADO DUAS COISAS ACONTECEM: A GENTE PERDE O DINHEIRO E O FREGUÊS DESAPARECE”; “FIADO SÓ PARA MAIORES DE 100 ANOS, ACOMPANHADO DOS PAIS”; “FIADO NO VIZINHO AO LADO” e assim por diante. Alguns quadros vinham com a caricatura do “Amigo da Onça” (criação imortal de Péricles – Revista O Cruzeiro).

A relação comerciante-freguês era simples. Esquecia o caderno, mandava anotar as compras; por isso o bodegueiro sempre mantinha dois cadernos: um para si e outro para o cliente. No dia do pagamento as somas tinham que empatar. Ai é que residia o perigo. Muitas vezes um mais esperto apagava o valor e anotava um menor e as contas não fechavam. Discussões e perda de fregueses-de-caderno eram frequentes.

Mesmo os que compravam a vista, muitas vezes não tinham dinheiro e mandavam anotar, ou como se dizia popularmente: PENDURAR. Neste caso, o comerciante anotava o nome e o valor do débito num papel. Em pedaço de arame, de média grossura, em forma de gancho; o papel era espetado junto às anotações de fiado de outros compradores. Depois este gancho ficava dependurado no armazém às vistas do bodegueiro e dos clientes… Certamente para que eles se lembrassem de pagar a conta.

 

 

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