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O mundo é plano

  • Outubro 11, 2022
  • Cultura
  • João Baptista Teixeira

Calma! Não se trata de uma teoria, mas o título de um livro de Thomas Friedman (Uma breve história do século XXI), colunista do New York Times, que aborda motivos e efeitos da globalização, sobretudo no terceiro milênio.

Do tempo em que os empreendimentos exploratórios eram tocados por terra, em lombo de animais, ou em precárias naus, aos dias de hoje, com a velocidade das comunicações, o mundo foi achatado. Esta é a figura de linguagem adotada por Friedman. E faz sentido. O que é plano é mais fácil de invadir e, por isto mesmo, países como Hungria e Polônia foram historicamente devassados por conta de sua geográfica planície. Países montanhosos, como Suíça e Afeganistão, têm uma defesa natural nada desprezível.

Barreiras legais, patriotismo e a coesão de sociedades são elevações que dificultam a invasão de mercados. Por isto devem ser terraplanados.

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As tentativas de quebrar fronteiras, todavia, não se limitam à busca capitalista de poder e riqueza. No Manifesto Comunista o famoso “Proletários de todos os países, uni-vos” foi um grito de convocação para que fronteiras fossem desconhecidas. Uma incitação, aliás, com uma violência subjacente que decorre da própria “luta de classes”.

Ao basear-se no socialismo científico de Marx, Lênin entendeu muito bem o que o mestre sugerira. Em sua obra “Esquerdismo: doença infantil do comunismo”, Lênin prescreve o veneno a ser utilizado de forma não homeopática: “A ditadura do proletariado é a guerra mais severa e implacável da nova classe contra um inimigo mais poderoso, a burguesia”. No mesmo parágrafo volta a mencionar guerra: “Por tudo isso, a ditadura do proletariado é necessária, e a vitória sobre a burguesia torna-se impossível sem uma guerra prolongada, tenaz, desesperada, mortal; uma guerra que exige serenidade, disciplina, firmeza, inflexibilidade e uma vontade única”.

Como o comunismo só pode ser implantado sob a “livre e forçada vontade”, a violência é apanágio, que Stalin elevou às alturas. Acusado como um carrasco, que Lênin não escolhera como sucessor, acho que não se lhe faz justiça. Afinal de contas o melhor gladiador não é aquele que extermina todos os que o desafiam?

O comunismo escravizou Polônia, Hungria, Romênia, Alemanha Oriental e outros tantos azarados países, que um dia por fim se libertaram. Os tempos haviam mudado e a conquista teria de ser empreendida sem tanques e fuzis. Gramsci, que morreu antes da Segunda Guerra Mundial, já intuíra que o caminho devia ser outro. Não por acaso, em seu “Cadernos do Cárcere” Gramsci critica Stalin.

Foi uma ousadia e tanto, afinal a estrela de Stalin era ascendente. Gramsci morreu quase no ostracismo. Stalin morreu em alta e chegou a ser exposto por anos no mausoléu onde estava Lênin, até ser defenestrado pelo revisionismo de Kruschov. E ter seu cadáver embalsamado sepultado fora do mausoléu.

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O termômetro da polarização política no Brasil registra uma alta preocupante, ameaçando estourar o bulbo. Vivemos um momento de divisão entre amigos, entre familiares, que lembra as estéreis discussões sobre futebol, com fanáticos se engalfinhando. Também nos remete ao “em casa em que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão”.

O pão que falta é o do bom senso. Temos assistido um festival de asneiras e dissonâncias. Entre os que não aceitam governos conservadores e os que chegam a pregar que o Brasil deveria vender a Amazônia e mesmo ser dividido, há muito pouco aproveitável.

E Gramsci, hoje? Sua pregação, de agir pelas beiradas, infiltrando ideias no judiciário, na imprensa, na educação, caiu no solo fértil da miséria popular, adubado pelo populismo e pela criminalidade. As ideias utópicas são sempre atraentes para os nefelibatas e para aqueles que não têm horizontes. As utopias prometem água no deserto, entregam areia e culpam os que perfuram poços pelo seu fracasso.

A direita não fica muito atrás. Fechados às verdadeiras soluções, muitos dos que se identificam com o que se pode denominar direita colocam a culpa no povo, que tacham de idiota. Prefiro ver o povo como o contingente de esquecidos históricos no protocapitalismo brasileiro, Sua inclusão é a única forma de construirmos um país próspero, que corrija suas patentes injustiças. Quando se acusa a esquerda de destruir valores enquanto jura defendê-los, não podemos esquecer que a direita não fez do Brasil uma nação justa.

Como sair desta encalacrada? Denunciar as pautas podres da esquerda, mas simultaneamente diminuir as desigualdades. Sugiro que se comece pela previdência única, para o povo e todos os poderes. Quando todos tiverem os mesmos limites de aposentadoria estará encerrado o capítulo vergonhoso das castas privilegiadas.

Se o mundo é plano e isto torna um território mais vulnerável, uma consequência é inegável: pode-se enxergar mais longe. Desde, entretanto, que se dissipe a fumaça alimentada pelo carvão dos que fazem de conta que somos uma democracia.

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