Entender a história do México não é nada fácil porquanto a quantidade de facções e tendências foi sempre considerável, fazendo com que o país ficasse por muito tempo privado de algo essencial a qualquer nação: coesão.
Quis a sorte que começasse minha viagem por Querétaro, cidade muito agradável, com papel marcante na vida mexicana. Tanto quanto o trabalho permitiu, visitei alguns pontos turísticos, como o museu da cidade e o belo aqueduto, concluído na primeira metade do século XVIII e que hoje se constitui num patrimônio arquitetônico.
Dentre os fatos importantes na história da cidade, o fuzilamento de um Habsburgo conta entre os maiores. Fui me inteirando da história e visitei dois museus na cidade. O segundo deles, no Cerro de las Campanas, tem agora uma capela erguida no local. Vamos à história.
Sob Benito Juárez o México decidiu em 1861 não pagar os juros de suas dívidas com as potências. Espanha, Inglaterra e França então celebraram o Tratado de Londres para agirem de forma conjunta. Espanha e Inglaterra chegaram a um acordo com o devedor, mas a França decidiu permanecer. Napoleão III, sobrinho do Bonaparte, apontou um nobre europeu para assumir como Imperador do México, simplesmente ignorando a república presidida por Juárez.
O ungido foi Maximiliano, irmão mais novo de Francisco José, Imperador da Áustria e marido da famosa Sissi. Os norte-americanos repudiaram a influência francesa sob sua fronteira e tão logo terminou a Guerra da Secessão passaram a apoiar Benito Juárez, de tal forma que Maximiliano nunca conseguiu dominar todo o México.
Para complicar de vez a situação do Habsburgo, a França, preocupada com a Prússia – que a derrotaria em 1870,- começou a retirar suas tropas, deixando Maximiliano pendurado no pincel. Refugiou-se em Querétaro, que cairia após longo sítio. Foi julgado, sentenciado e fuzilado.
Quando me aproximava do museu no Cerro das Campanas, onde uma capela marca o local do fuzilamento de Maximiliano e de dois se seus generais, escutei um guia turístico explicando aos seus clientes, debaixo de uma sombra que os protegia da canícula, que Maximiliano teria considerado a possibilidade de evadir-se do México, mas sua mãe, Sofia, o teria feito saber que preferiria vê-lo morto a saber que um Habsburgo fugira. Seria fato ou invencionice? Não sei.
O que li num dos painéis do museu é que Maximiliano teria pagado substancial importância aos soldados do pelotão de fuzilamento para que não o alvejassem na cabeça. Não queria que sua mãe o visse em estado deplorável quando seu corpo chegasse à Áustria.
À saída do museu conversei com um casal de idosos que controlavam a entrada e vendiam os bilhetes de acesso. Ele, bonachão, a me lembrar um vizinho de praia, estendia-se nos comentários, sempre com um riso perto de libertar-se. Contou que o corpo embalsamado foi transportado até o porto de Vera Cruz por caminhos ínvios e o caixão teria caído algumas vezes, com prejuízo da aparência do nobre. Seria quase uma vingança suplementar.
Perguntei por que não o deixaram ir-se, poupando sua vida. A senhora, sem erguer a cabeça do livro no qual registrava a venda de dois tíquetes, quase pulou da cadeira: “Não, ele invadiu o México, tinha se ser morto!”.
Perguntei quem erguera a capela. Mais uma vez ela tomou a frente: “Depois que o México e a Áustria reataram relações diplomáticas, os austríacos pediram autorização para erguê-la. O México apenas providenciou a base e então eles fizeram o resto. É claro que o México nunca ergueria uma capela para um invasor!”. Voltei para o centro da cidade ruminando o tanto que lera e escutara, concluindo que os mexicanos são muito patriotas.
Maximiliano, enfim, perdeu a vida por nada. Sua esposa, Carlota, buscou desesperadamente ajuda na Europa para que salvassem seu marido. Não encontrou apoio. Julgaram todos que nada podia ser feito. Filha do Rei da Bélgica, enlouqueceria.