Sentimentos são como a bruma Sentimentos são liberdade
São águas da cachoeira A cantar de uma paixão
Um branco véu de espuma Uma pontada de felicidade
Fluindo em uma vida inteira. Num cantinho do coração.
Foi assim, em versos de poeta desconhecido, encoberto pela fumaça da neblina, a envolver o passado, que minha mente alçou voo ao distante tempo da vida de guri. Época que guardo com carinho; os sentimentos fluem como a água de uma corrente: nasce cristalina, ao correr aumenta de volume, desaguando numa torrente de branca espuma, ao cair pela cachoeira.
De repente sou despertado da brincadeira entretido; a voz da senhora minha mãe, determinando uma tarefa a seguir, de cujo cumprimento, a obediência não deixava se furtar. “Nestinho! Vai na dona Thalia buscar minha costura”. E lá seguia o guri, descendo a Ramiro, pelo lado contrário da casa.
Em nossa rua, as calçadas eram mais largas do que as demais; o movimento era maior; tratava-se da rua principal da cidade, já com calçamento pronto. Ao lado fronteiro da nossa casa ficava a moradia do seu Carlos Griebeler, um homem meio taciturno, que trabalhava com o pai Edmundo, dono do famoso armazém na esquina da praça.
O seu Carlos, viúvo, foi casado, em segundas núpcias, com Elita Leipnitz. Do anterior casamento tinha dois filhos: Cecilia e Davi. Muito pouco conheci a menina, por ter ido estudar e morar com parentes em Porto Alegre. Com o filho mantive estreita amizade; éramos companheiros da pesca de lambaris, na escada da banha, lá no rio Caí. Novos filhos vieram ao mundo: Zico, Alemão, Marquinhos e Martinha. Acompanhei a infância e juventude de todos.
Descendo a rua, após a casa do seu Carlos, havia uma grande casa de madeira, pintada em amarelo, de propriedade do seu Griebeler, que então estava alugava para o seu Camargo, fiscal da área sanitária, que trabalhava no Frigorífico Renner. O casal não tinha filhos.
Contíguo a este grande terreno ficava a casa de construção mista da família Bier. Lembro muito bem da filha do casal; era uma moça alta, professora, bastante bonita, de nome Erica. Tempos depois, ela casou com um irmão marista, que largou a batina; conhecia pelo apelido Didio. Foram morar em Santa Rosa. Então a casa foi adquirida pelo relojoeiro Henrique Bihre, pai do meu colega Cleto e da Glaucia.
Continuando minha trajetória, chego à casa, hoje de minha propriedade, totalmente reformada e acrescida. Esta casa foi construída pelo seu Schneider, irmão do Bruno, dono do Hotel Montenegro. Tinha mudado para S.S do Caí, onde alugou o hotel, no centro da cidade. A casa foi alugada para o Dr. Mattana, médico recém chegado em nossa cidade, agora já casado com a dona Ivone, de saudosa memória.
E então, finalmente chego ao local da tarefa a mim solicitada: a casa da dona Thalia Michels. Não lembro o primeiro nome do marido, pois conhecíamos somente por seu Michels. Ele era dono de caminhão e tinha uma camioneta; homem abastado. Tanto a dona Thalia, quanto o marido, eram pessoas de elevada estatura; pais da Norma e do Henrique. Ela casou com o meu amigo Taudelino, pais do Rubão; Ele casou com a Eleonore, filha do Kali Jahn, dono dos cinemas.
Recebi o pacote das costuras, entreguei um pequeno com o dinheiro e retornei; pretendo continuar a caminhada pelos dois lados da rua. Muitos moradores para serem lembrados.