Neste dia das Missões, podia falar das mais de quatro de dezenas de Irmãos de S. João de Deus que foram missionários em terras distantes desde 1943 até hoje. Destes, cerca de uma dezena, foram ordenados sacerdotes para a Hospitalidade na Ordem nos quais me incluo com dois anos de missionário em Luanda.
Podia falar do Jubileu dourado do Pe. José Maria Antunes, sacerdote em que participei em Lourenço Marques em 1972. Este Padre foi missionário muito zeloso e ativo em dois centros de psiquiatria e em leprosarias, em Moçambique desde 1943 a 1975.Podia falar de tantos outros irmãos enfermeiros que cuidaram da saúde de milhares de doentes em Moçambique. Podia ainda falar das doze sessões de formação que realizei em países de missão Além-mar oito deles com missões da Ordem.
Vou limitar-me a evocar um outro Irmão enfermeiro e sacerdote que foi missionário em Moçambique durante 30 anos. Refiro-me ao Pe. Manuel Nogueira que desde 2010 o postulador geral de então, o Pe. Elias Tripaldi, iniciou os preparativos de beatificação para responder a solicitações de Nampula, preparativos que, em 2021, o novo postulador, Pe. Dario Vermi, fez avançar.
O Pe. Manuel faleceu em 26 de outubro de 2003 após uma vida extraordinária de atividade apostólicas e virtudes heroicas em Nampula que continuam a ser evocadas por muitos que o conheceram e receberam dele formação humana e cristã. Um deles é o sacerdote da diocese de Nampula, Pe. Eurico, que o Bispo atual nomeou vice-postulador. Embora o processo ainda não tenha sido aberto, os preparativos da vasta documentação continua a ser reunida e catalogada por um grupo de pessoas nomeadas, entre elas a Dra Carmina Montezuma curadora do Museu S. João de Deus.
O Pe. Manuel Nogueira não foi apenas um de quase meia centena de Irmãos missionários em Moçambique, Angola e Timor-Leste. Desde rapaz, na escola e na catequese, impressionava a freguesia pela sua inteligência brilhante, memória e dotes prodigiosos de falar em público e exemplo. Mereceu até a alcunha de “bacharel” por falar muito e com conhecimento. Durante a formação foi estudante, formador, professor e aluno de enfermagem na Casa de Saúde do Telhal. Depois do curso de Filosofia brilhante no Seminário de Angra do Heroísmo e da licenciatura em Teologia na Universidade Lateranense em Roma, veio a associar atividades de formação, ensino de enfermagem e, em 1972, a manter uma atividade prodigiosa como enfermeiro e missionário em Nampula.
No fim dos anos 70, quando era enfermeiro na Clínica de psiquiatria da Ordem nacionalizada e missionário da diocese de Nampula, passou por experiências muito dolorosas, nas prisões de Nampula e Namaacha, quando a independência de Moçambique seguia a cartilha marxista-leninista. Tudo apenas por mobilizar gente para a evangelização e as celebrações cristãs de crianças, jovens e adultos, muitas vezes reunidas debaixo dos cajueiros por a capela ser reservada a formação marxista-leninista.
Passado algum tempo, regressado à liberdade sem qualquer julgamento, foi sendo reintegrado nas suas funções de enfermeiro no hospital e na vida missionária diocesana e da Ordem; continuou a catequizar, batizar, casar milhares de crianças, jovens e adultos. Ainda teve de aceitar dezenas de solicitações dos Superiores e do Bispo para ser formador, professor de muitas disciplinas e de latim da Universidade Católica, recém-inaugurada, e mais de uma dúzia de funções, entre diretor espiritual, redator da revista e boletins, pároco, membro de inúmeros organismos e comissões diocesanos, etc.
E, assim, entregando a sua vida a alimentar corpos famintos com contentores de ajudas recebidas de várias partes do mundo; e a dar o alimento do Evangelho ainda a maiores famintos da sabedoria de Deus e do Evangelho. Bem pode ser evocado, conhecido, imitado e intercedido como enfermeiro nas pegadas de S. João de Deus e no seguimento de Jesus a cumprir a sua ordem: “Sereis minhas testemunhas” (At 1, 8). E que testemunha! Só com a fortaleza do Espírito Santo.