No passado dia 31 de Outubro, decorreu no Museu de Arte Sacra, a apresentação dos livros “O Beato João de Jesus Adradas e a Fundação da Casa de Saúde São João de Deus no Funchal 1922-1924” e “Missionário a toda a prova em Moçambique, O Padre Manuel Nogueira, O.H.”, ambos da autoria do Pe. Aires Gameiro, da Ordem Hospitaleira de São João de Deus.
No início da apresentação das duas obras, falou o seu autor que fez uma resenha da Bula Papal que instituiu a Ordem Hospitaleira a este propósito disse que “Após a morte de S. João de Deus, em 1550, a fundação hospitaleira era muito popular por estar próxima dos pobres, mas carecia de afirmação pública e estatuto legal canónico”.
Devido a essa popularidade começaram a aparecer “intrusos” que se aproveitavam em benefício próprio. Daí que “dois irmãos, Sebastião Arias e Pedro Soriano, partem de Granada para Roma para oferecerem os seus serviços ao Papa, o dominicano Pio V, e para conseguirem dele a aprovação pontifícia.
Em 1 de Janeiro de 1572, diz que o papa “Pio V concedeu a ‘Bula Licet ex debito’, pela qual ele aprovava o instituto Religioso de João de Deus e dava aos Irmãos a Regra de Santo Agostinho e o escapulário que os distinguiria dos intrusos embusteiros que andavam a desviar as esmolas dos seus hospitais”.
Já D. Teodoro de Faria, que fez a apresentação da obra “O Beato João de Jesus Adradas e a Fundação da Casa de Saúde São João de Deus no Funchal 1922-1924” recordou o seu próprio percurso de ligação à quinta do Trapiche quando criança e jovem, quinta que depois viria a ser transformada na Casa São João de Deus.
Teodoro recordou ainda as dificuldades primeiras dos irmãos hospitaleiros que tinham de carregar os doentes que foram sempre aumentando desde a Igreja de Santo António até ao Trapiche porque nessa altura (1922) não existia estrada.
Recordou ainda os dois fundadores da instituição o irmão Siforiano Lucas Feijão e Manuel Gonçalves. Em 1923 veio o beato João Jesus Adradas, superior provincial, ajudar a programar o funcionamento da instituição.
O bispo emérito recordou ainda o irmão Pimenta responsável pelo presépio gigante que levava milhares de pessoas àquela instituição.
Teodoro Faria destacou a importância desta instituição no tratamento da doença mental no seu primórdio, proporcionando hoje e passados 100 anos, o acompanhamento a outros tipos de patologias nomeadamente o álcool e as drogas.
Já Maria Paredes, apresentou o livro “Missionário a toda a prova em Moçambique” que conta a vida do Pe Hospitaleiro, Bento Manuel Nogueira, naquele país desde 1972 a 2003 ano da sua morte.
A Maria Paredes, que já havia editado em parceria com o autor Pe Aires Gameiro, um livro com o título “Padre Manuel Nogueira, o.h. hospitaleiro, enfermeiro, missionário em moçambique”, em 2019, voltou a recordar a vida do Padre Nogueira, em Nampula, referindo que este livro faz-nos pensar no muito que o ocidente tem em contraste com as fragilidades passadas e atuais do Continente Africano, e no caso concreto de Moçambique, um país onde parece haver paz, mas onde a guerra continua a causar muita dor e vítimas e onde os católicos continuam a ser perseguidos.
Este livro reflete a forma como a Igreja era e ainda é tratada pelas autoridades oficiais, no caso concreto o Pe. Nogueira, no período pós independência, com este a ser alvo de ordem de prisão por três vezes na cadeia de Nampula e na prisão política de Machava (Maputo), entre 1979 e 1980. Nesses períodos, o sacerdote “foi submetido a interrogatórios e diversas humilhações, sempre sem perder a fé cristã”.
Recorde-se que, atualmente, a Província Portuguesa da Ordem Hospitaleira encontra-se a iniciar o Processo de Beatificação do Padre Bento Manuel Nogueira (S. Simão de Litém, 5 de abril de 1927 – Lisboa, 26 de outubro de 2003), Irmão, Enfermeiro e Sacerdote da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus que constitui um testemunho de vida plena na Hospitalidade e em missão de fé cristã em Portugal e, sobretudo, em Moçambique, onde foi Missionário mais de 30 anos.