Eu não quero falar de abusos sexuais. Ninguém quer. Nem na igreja, nem em lado nenhum. Eu não quero falar de guerra. De gente que mata, assim, sem mais nem porquê. Ninguém quer falar de guerra, de atrocidades, de violações de direitos humanos. Ninguém quer falar do pior de nós mesmos.
Eu não quero falar de padres, que deviam representar Deus na terra, e que abusam sexualmente de pessoas, crianças. Não dá. Há uma espécie de bloqueio non-sense no meu cérebro e só me apetece gritar.
Eu não quero falar de professores, de treinadores, de familiares, tios, avós que abusam sexualmente de pessoas, crianças. Não dá. Grito.
Hoje, ouvi um Podcast muito interessante sobre este tema. São os episódios 9 e 10 do Podcast Hospital de Campanha. O convidado dizia que a primeira coisa a ver é sempre a vítima. A primeira a socorrer, a tentar salvar. Como ajudar alguém a sobreviver a isto? Como sobreviver a isto? E, ao longo da entrevista, fui percebendo que todos, de algum modo contribuímos para isto. As pessoas estão sós, vivem sós. Não são bem formadas. Não percebem a riqueza da sua missão. Não se respeita regras de prudência, de pudor. Quem vê não quer ver. Quem vive não quer viver. Cada um mete-se na sua vidinha. E só quando explode é que percebemos o tamanho da asneira que fizemos.
A minha amada Igreja, Hospital de Campanha, como lhe chama o Papa Francisco, tão poluída por estes comportamentos, tem agora uma enorme missão. Momentos destes obrigam todos os católicos a ser mais católicos. Rezar mais, ninguém vê ninguém a rezar. A olhar em silêncio Jesus Sacramentado. Rezar por todas as vítimas deste absurdo existencial que é o abuso sexual. Rezar pelos nossos sacerdotes, tantos, maravilhosos, que, por todo o mundo, entregam a sua vida à missão incrível de ser Deus na terra, no meio dos homens, dos ricos e dos pobres, dos que já têm fé e dos que a renegam para nunca mais. Rezar pelos sacerdotes que cometeram atrocidades para com os que deviam proteger. Como sobreviver a esta monstruosidade?
O tema da oração é um tema fundamental. Se calhar, temos andado distraídos com uma fé faz de conta. Somos todos hiperativos e metemos mil afazeres no dia e depois nunca rezamos. Deus tem amor para todos, mas cada um tem de O procurar. Rezar é fazer silêncio interior para ouvir a voz de Deus. Quantas vezes os meus filhos me veem de facto a rezar? Quantas vezes vejo o meu pároco a rezar?
Rezar, mas rezar mesmo. Falar com Deus. Escutar Deus e ver, com Ele, o que podemos fazer para que a Igreja seja cada vez mais Una, Santa, Católica e Apostólica. Para que a Igreja seja um verdadeiro Hospital de Campanha que acolhe, cuida, cura com o maior remédio de todos os tempos- o Amor. Deus é Amor.
Certamente, todos teríamos de falar muito menos de abusos sexuais, guerras, crimes, atrocidades, se rezássemos.