Universo a abrigar
A nós outros, sonhadores
Em busca das raízes
De tantos quantos
Por aqui quedaram antes.
Somos saudosistas
Ou simples memorialistas,
A rememorar a ancestralidade,
Dos que deram causa
Ao nascer… E desenvolver
Da santa terra de São João do Montenegro
Como meu pai era comerciante, lembro muito bem do custo de uma loja, em relação ao governo. Imposto de Renda e Imposto de Consumo, na esfera federal. Ao Estado somente o Imposto de Vendas e Consignações, além de estampilhas para selarem documentos. Em nível municipal o alvará de licença e o Imposto Predial e Territorial Urbano. Em relação aos funcionários, quem os tivesse, havia o pagamento ao Instituto de Aposentadoria dos Comerciários (IAPC). Algumas taxas, mas de pequena monta, além da água e luz.
Os empregados do comércio normalmente recebiam salário mínimo, ou um pouco mais, mas não muito. Até pode parecer pouco, mas segue a explicação: No início do ano de 1960, o salário era da ordem de seis mil cruzeiros. O preço médio da carne de alcatra, por exemplo, era de CR$154,00. Com o dinheiro do salário podia-se comprar quase 40 quilos de carne de alcatra. Com o salário mínimo atual compra-se algo em torno de 21 quilos. A carne segunda era bem mais barata; comia-se muitos miúdos. A carne de porco, vendida no varejo do Frigorífico Renner, era acessível ao bolso de todos.
Os gêneros alimentícios também não eram caros. Pão e leite eram entregues em casa, pelo padeiro e leiteiro, com cobrança semanal ou mensal, a preços perfeitamente acessíveis aos menos abastados. A maioria das mulheres era dedicada aos afazeres domésticos. Eram elas que cozinhavam, lavavam e passavam a roupa. Na limpeza da casa sempre contavam com o apoio dos filhos. Muito chão lavei, carreguei lenha, tirei roupa do quarador e o pó dos móveis e utensílios.
As mulheres ajudavam os maridos no comércio familiar, mas sem nunca olvidar dos afazeres da casa. O que escrevo é uma visão real do passado, sem nenhuma conotação machista. Todos na família ajudavam-se mutuamente, pois esta era a única forma de se viver com a remuneração paga à época. Um dado significativo: as verduras eram pouco encontradas nos armazéns; praticamente todas as famílias tinham uma horta nos fundos da casa, onde se plantava e colhia um pouco de tudo.
A bebida predileta era a água; bebia-se muita água. Quando ainda não se tinha o refrigerador, a água era armazenada e refrigerada em ambientes próprios, como a talha ou o filtro; ambos de barro. Nas casas, refrigerantes e cervejas eram escassos, praticamente só nos dias de festa e em algum churrasco domingueiro, não frequentes.
Recentemente li uma reportagem sobre nossas crianças tomarem pouca água; isto é absolutamente real. Poucas vezes observei os meus netos tomando água; inclusive temos um ionizador d’água, por onde a água corre e chega gelada ao copo. As crianças de hoje querem refrigerante; por sorte algumas pedem suco. Isto realmente é preocupante, já que no ser humano a água representa 70% do peso de uma pessoa. A água ajuda a limpar o organismo, além de hidratar. É altamente salutar para o bom funcionamento do intestino – estamos assistindo crianças com sérios problemas de prisão de ventre, pois além de tomarem pouca água, ainda não comem alimentos ricos em fibras.
A boa alimentação que tivemos no passado nos foi muito proveitosa; ao invés de comermos as porcarias industrializadas de hoje, comíamos frutas, muitas frutas.