Skip to content

Tempos difíceis

  • Novembro 26, 2022
  • Religião
  • José Maria C. da Silva André

Reunião dos Bispos alemães com os responsáveis da Santa Sé

 

Os jornalistas fizeram a conta: ao dia de hoje, o Papa fez exactamente 100 intervenções a pedir a paz para a Ucrânia e a condenar a selvajaria desta invasão. O centésimo apelo recordou o «Holodomor», que matou propositadamente à fome milhões de ucranianos, no tempo de Stalin. Os actuais russos, depois de arrasarem cidades inteiras, de matarem centenas de milhares de pessoas e de provocarem a fuga de muitos milhões de ucranianos, descobriram nas últimas semanas que sem electricidade não há abastecimento de água canalizada e estão a destruir uma a uma as centrais e a cortar as linhas eléctricas, para matar os ucranianos à sede. Esta guerra alimenta-se de uma religiosidade tóxica, que invoca Deus como bandeira de conquista e de morte.

Por outras razões, a Igreja católica na Alemanha está a atravessar um momento difícil. Os bispos alemães queixam-se do êxodo maciço dos fiéis e muitos bispos confiaram no remédio que uns especialistas lhes sugeriram. Infelizmente, o remédio agravou o problema, dividiu a conferência episcopal alemã e suscitou a reacção da Santa Sé.

O Papa tinha-lhes escrito pessoalmente uma carta em 2019, mas foi ignorada. A reunião que agora tiveram com ele foi tensa, a julgar pelas declarações do Presidente da Conferência Episcopal aos jornalistas. No encontro do passado dia 18 de Novembro, com os responsáveis da Santa Sé, as tensões emergiram claramente, a ponto de as intervenções críticas dos Cardeais Ladaria e Ouellet terem sido publicadas na página da internet do Vaticano em alemão.

O Cardeal Luis Ladaria (Prefeito do dicastério para a Doutrina da Fé) foi diplomático, sem ambiguidade. Sublinhou muito a unidade da Igreja e concordou que tinha havido uma perda de credibilidade dos bispos alemães, por causa dos casos de abuso sexual. Depois, fez cinco objecções ao documento apresentado.

Primeiro, o texto está pouco estruturado, é confuso e não serve como base para um documento final. Em segundo lugar, os abusos sexuais não são argumento para alterar a estrutura da Igreja. A terceira crítica é que o documento se afasta completamente da visão católica da sexualidade, ensinada por exemplo no Catecismo da Igreja Católica. A quarta objecção reside em não aceitar a verdade de que «a Igreja não tem autoridade para ordenar mulheres», declarada por João Paulo II. O quinto reparo refere-se ao exercício do magistério episcopal, porque, como o Concílio Vaticano II lembrou, Jesus Cristo fundou a Igreja como uma comunidade estruturada, baseada numa cabeça, que é Pedro, com todo o colégio episcopal.

A intervenção do Cardeal Marc Ouellet (Prefeito do dicastério para os Bispos) foi mais dura. Falou de cisma latente, embora ressalvando que não seria essa a intenção dos bispos alemães. Contudo, «é chocante que a agenda de um pequeno grupo de teólogos, de há algumas décadas atrás, tenha surgido, de repente, como a proposta fundamental do episcopado alemão: a abolição do celibato obrigatório, a ordenação dos “viri provati”, o acesso de mulheres ao ministério ordenado, a reavaliação moral da homossexualidade, a limitação estrutural e funcional do poder hierárquico, uma visão da sexualidade inspirada na ideologia do género, mudanças radicais do Catecismo da Igreja Católica, etc.».

Segundo o Cardeal Ouellet, estas propostas semeiam a confusão e abrem caminho para o cisma. «Fica-se com a impressão de que o assunto muito sério dos casos de abuso foi aproveitado para promover ideias que não têm relação nenhuma com eles». Segundo o Cardeal, os bispos de todo o mundo «reagiram com assombro e preocupação [às propostas]: (…) porque a primeira missão do bispo é pregar em conformidade com o Magistério da Igreja e do Papa (cf. Vaticano II, «Lumen gentium», 25)». O terem ignorado os apelos do Papa Francisco na sua carta de Junho de 2019 «teve consequências significativas». «O distanciamento do Magistério (…) levou a posições que contradizem o ensinamento de todos os Papas (…). A rejeição da declaração de João Paulo II acerca da impossibilidade de a Igreja Católica ordenar mulheres é espantosa». «Há um problema de falta de fé no Magistério e um racionalismo descontrolado (…) que põem em causa este trabalho sinodal, que parece fortemente influenciado por grupos de interesse (…) e muitos consideram como uma iniciativa decepcionante, destinada a falhar, por ter saltado dos carris».

Como sempre, a solução para tempos difíceis é rezar ao Deus da verdade, da justiça e da paz.

 

Na mesa, os Cardinais Ladaria, Parolin e Ouellet

 

Categorias

  • Conexão | Brasil x Portugal
  • Cultura
  • História
  • Política
  • Religião
  • Social

Colunistas

A.Manuel dos Santos

Abigail Vilanova

Adilson Constâncio

Adriano Fiaschi

Agostinho dos Santos

Alexandra Sousa Duarte

Alexandre Esteves

Ana Esteves

Ana Maria Figueiredo

Ana Tápia

Artur Pereira dos Santos

Augusto Licks

Cecília Rezende

Cláudia Neves

Conceição Amaral de Castro Ramos

Conceição Castro Ramos

Conceição Gigante

Cristina Berrucho

Cristina Viana

Editoria GPC

Emanuel do Carmo Oliveira

Enrique Villanueva

Ernesto Lauer

Fátima Fonseca

Flora Costa

Helena Atalaia

Isabel Alexandre

Isabel Carmo Pedro

Isabel Maria Vasco Costa

João Baptista Teixeira

João Marcelino

José Maria C. da Silva...

José Rogério Licks

Julie Machado

Luís Lynce de Faria

Luísa Loureiro

Manuel Matias

Maria Amália Abreu Rocha

Maria Caetano Conceição

Maria de Oliveira Esteves

Maria Guimarães

Maria Helena Guerra Pratas

Maria Helena Paes

Maria Susana Mexia

Maria Teresa Conceição

Mariano Romeiro

Michele Bonheur

Miguel Ataíde

Notícias

Olavo de Carvalho

Padre Aires Gameiro

Rita Gonçalves

Rosa Ventura

Rosário Martins

Rosarita dos Santos

Sérgio Alves de Oliveira

Sofia Guedes e Graça Varão

Suzana Maria de Jesus

Vânia Figueiredo

Verónica Teodósio

Virgínia Magriço

Grupo Progresso de Comunicação | Todos os direitos reservados

Desenvolvido por I9