Na segunda metade do século passado desenvolveu-se uma aliança especial entre esoterismo e ocultismo, com conotações gnósticas, espiritualistas, num embrenhado de diversos e heterogéneos elementos de cariz espiritualista e místico. O fenómeno da auto-religião, onde cada pessoa faz a sua própria religião, veio crescendo de forma constante, tomou a forma de “novas espiritualidades”, que integram uma série de práticas de desenvolvimento pessoal, medicamentos alternativos, causas ideológicas apocalípticas e até ocultismo, bruxaria, esoterismo e magia.
Não aceitando dogmas, porque recusam confrontar-se com a Verdade, as novas crenças esotéricas surgem disfarçadas de ecologia, feminismo, animalismo, gnosticismo, magia e ocultismo, desconhecendo muitas vezes que estão a correr o risco de abrir a porta a forças demoníacas, quer se esteja ciente disso ou não. Nas nossas sociedades secularizadas, as questões existenciais ainda afligem o ser humano, mas agora procuram a solução ou resposta na bruxaria, na astrologia, no druísmo, nas religiões celtas ou pagãs, recusando as religiões tradicionais, nomeadamente o cristianismo, numa tentativa de arrastar o divino para um nível humano, destronando o Criador e exaltando a criatura.
Convém haver um bom esclarecimento sobre a diferença entre religião e espiritualidade. A religião é um conjunto de dogmas e rituais para serem cumpridos, onde se deve seguir uma Verdade transcendente. A espiritualidade, por outro lado, é vista como um espaço de liberdade onde se podem procurar, deuses, divindades, o absoluto, do modo como se deseja e da maneira que se gosta. Além disso, a espiritualidade está mais associada às religiões asiáticas (hinduísmo, budismo, etc.) do que às religiões ocidentais, especialmente as cristãs. A meditação é preferida à oração como uma experiência mais profunda da vida interior, conceitos distorcidos e erradamente equacionáveis, assim como relacionar o significado da missa, com a preferência por várias práticas (hipnose, yoga, reiki, etc.), por abrir dimensões espirituais encerradas no seu interior das pessoas.
Nestes caso, é necessário denunciar um profundo mal-entendido, pois as religiões orientais foram posteriormente adaptadas ao gosto e desejo ocidental, adulterando e esvaziando-as do seu conteúdo religioso. Estas pseudo-espiritualidades são, portanto, mais parecidas com técnicas de desenvolvimento pessoal onde a busca de Deus é apenas um pretexto para uma busca de si mesmo, do seu eu mais profundo, pessoal e individual.
O ocultismo e a magia são incompatíveis com a fé cristã. A Bíblia sempre advertiu o crente contra todas as formas de magia. O Catecismo da Igreja Católica refere que o uso de práticas ocultas, mesmo com a finalidade de obter saúde, é “contrário à virtude da religião” (CIC 2117). A essência da religião é “conectar” o homem com Deus, porém, a magia afasta o homem de Deus na medida em que o transforma em entidades ou poderes ocultos. A magia não convida à confiança em Deus ou na Providência, mas dá ao homem a ilusão de ser todo-poderoso e de ser capaz de controlar a sua vida sozinho, perdendo a noção do seu próprio aprisionamento.
O pensamento esotérico é baseado em doutrinas pagãs que remontam à antiguidade, em que não existe um Deus criador, uma crença na reencarnação e que a salvação depende de uma iluminação produzida por um conhecimento secreto e falso.
Estas “novas espiritualidades” tornam-se apelativas na medida em que podem trazer algo imediato, concreto e temporário: paz interior, melhor saúde física e psicológica, embora pouco consistentes, não havendo a busca da Verdade nem do Amor, mas só um individualismo exacerbado. São caminhos materialistas e utilitários, onde o homem não se volta para o outro, nem para o transcendente, mas para si mesmo.
É urgente lembrar que só Jesus é “o Caminho, a Verdade e a Vida”, e que devemos ter cuidado com os “falsos profetas” que se aglomeram ao nosso redor, porque as suas mensagens são ocas e conduzem ao vazio, ao nihilismo e à solidão.
“É oportuno estar consciente de que as seitas e os movimentos religiosos alternativos se difundem cada vez mais facilmente onde existir escasso conhecimento da Sagrada Escritura e da própria fé por parte dos católicos; onde a comunidade eclesial se exprime através de atitudes pastorais burocráticas e massificadoras; onde não é dado o justo relevo à dimensão sacramental da própria prática religiosa; onde não se encontra uma devoção teologicamente fundamentada à Virgem Maria e respeitosa do magistério; onde a comunidade eclesial não vive momentos de oração e de adoração eucarística”. (RELIGIOSIDADE ALTERNATIVA, SEITAS, ESPIRITUALISMO. PAULUS EDITORA)