Ainda pior que a convicção do não,
É a incerteza do talvez,
É a desilusão de um quase!
É o quase que me incomoda, que me entristece,
Que me mata trazendo tudo
Que poderia ter sido e não foi.
Basta pensar nas oportunidades
Que escaparam pelos dedos,
Nas chances que se perdem por medo,
Nas ideias que nunca sairão do papel
Por essa maldita mania de viver no outono.
Sarah Westphal
Andamos pela vida em passos cadenciados, ao tamanho das pernas possibilitem; cotidianamente nos relacionamos com outros seres, a nós semelhantes. A criança, quando começa em seus primeiros passos, um novo mundo abre-se lhe; justamente o momento em que o NÃO começa chegar a sua audição.
Esta é uma verdade inquestionável, mas sempre esquecida; ponha-se num estado de inércia, física e mental, por mais de 10 anos. Quando readquirir a consciência tudo será novo, diferente – o celular, o computador, as roupas e assim por diante. Começará um tempo de descoberta e readaptação. Imagine suas ações constantemente podadas pelo NÃO.
Assim se passa com a criança; ela precisa descobrir este mundo novo no qual foi inserida; sairá a mexer, abrir gavetas, quebrar louças, desarrumar as fotos de família, os móveis e tudo o mais que a sua frente estiver. Está simplesmente começando a aprender, a conhecer o seu habitat.
Carecemos de tempo para lhe explicar as novidades; a tentativa de parar com a bagunça se resume no “Não Mexe”, “Não Faça” … Por que querem tanto que a criança comece a caminhar e agora podam-lhe a curiosidade, a descoberta? E o não insere-se na bagagem cultural que levará para a vida.
A negação poderá marcar o tempo de infância e moldará o caráter. Aventurar-se por caminhos espinhosos, em busca de um ideal, sempre será procedente se o objetivo for nobre. Neste desiderato, quando a palavra não for proferida, deve servir como alerta e merecer uma cuidadosa avaliação. O livre arbítrio determina uma escolha em função da própria vontade; o dualismo a nortear esta escolha exige um profundo questionamento, a formar a convicção.
Neste dualismo entre o Sim e o Não, aparecem a incerteza do talvez e a desilusão do quase. Remontem ao passado e a lembrança oferecerá exemplos: “talvez possas passear” ou “talvez tenhas dinheiro”. Quantas vezes pedimos para sair e a resposta foi um talvez … Se o pai permitir. Queria comprar uma espingardinha de brinquedo … Talvez, se sobrar dinheiro. Sempre a incerteza.
Eu quase consegui alcançar o objetivo… Faltou pouco. Quase gol, mas a bola bateu no travessão. Observem como quatro singelas palavras interferem-se em nossas vidas, permitindo, vedando, marcando a esperança e a desilusão. Somos os que perdem chances por medo; projetamos ideias, as quais, se forem escritas, nunca sairão do papel (ou do arquivo do computados).
“Maldita mania de viver no outono” … O que significa o outono em nossas vidas? Outono é o momento em que as folhas secam e caem, os últimos frutos são colhidos, a colheita é guardada para o inverno, é um ciclo de reflexão, e o começo do recolhimento.
Tempo em que você precisa deixar ir, do que você precisa abrir mão, para seguir firme para os próximos ciclos, para continuar a crescer.
Agradeça, desapegue, mude, se reinvente, se renove. Abra espaço para o novo, seja receptivo às mudanças. Diga adeus a tudo aquilo que não te serve mais; recepcione o novo. A imagem refletida é o complemento da imagem projetada, homens e mulheres precisam estar juntos para que a comunhão perfeita possa se refletir em momentos de intensa união e perfeição.