O Dia Internacional das pessoas com deficiência (3 dez.) destina-se a promover a defesa da dignidade dessas pessoas, seus direitos e bem-estar, sua inclusão na comunidade com equidade, (não com igualdade!). Os dicionários dizem que deficiência é uma ineficiência de funções, falta de alguma função normal. Ser física ou mental, doença ou disfunção leva sempre à desigualdade. Só combina com igualdade no sentido de igual dignidade que o mundo dos negócios e utilitarismos tende a não reconhecer nem respeitar. Olhe-se aos estaleiros e confinamentos do trabalho escravizante no mundo! Igualdade ideológica também não combina com ciência; nada é igual; cada pessoa e coisa só são iguais s si mesmas.
Todas as coisas são originais, únicas, e a ciência não se cansa de investigar a identidade das coisas e descrever o que distingue umas das outras. Os cientistas descobriram o mundo assombroso dos marcadores de identificação das unicidades irrepetíveis: as digitais, a iris e o ADN. Não há duas identidades iguais. Os marcadores são assinaturas do Criador. Não se exclui que se descubram outros; a biometria científica tenta. As identidades são inimigas do nivelamento das pessoas e das coisas. Razão têm os que defendem que criar não é o mesmo que fabricar.
As deficiências colam-se às pessoas singulares como fachadas disfuncionais ou erros acidentais; e resistem à separação provocando problemas de linguagem e de preconceito. A expressão corrente “pessoas com deficiência” amaciou o falar. A língua inglesa recorreu ao termo hadicaps atribuindo-os às limitações dos ambientes sociais e arquitetónicos como inadequados e deficientes. Será que as pessoas com deficiência têm direito à sua dignidade como todas as pessoas ou, pelas suas incapacidades orgânicas, mentais e afetivas, adquirem outros direitos só delas? Nesse caso será a sociedade organizada das pessoas, que tem obrigações novas para com respostas especiais minimizar os incómodos das incapacidades.
Entramos assim numa relação em espelho. Olhando para as deficiências de alguém salta à vista a imagem do espelho a mostrar se outras pessoas (sociedade) agem com ou sem deficiências para com elas. As pessoas com deficiência revelam as deficiências da sociedade, se são formadas por pessoas com deficiências de ajuda, solidariedade, generosidade, voluntariado. A imagem refletida pelo espelho mostra os cenários de deficiências político-sociais a que os programas de TV, rádio, imprensa, redes etc. nos habituaram. São pessoas que falham no respeito e defesa da dignidade de tantas crianças carenciadas, doentes, vítimas da fome, violência, abusos, exploração e incapazes, por limitações várias, de se autobastarem.
O espelho também mostra os maravilhosos caminhos da solidariedade, equidade e bondade para com estas pessoas. A Igreja e muitas ONGs de solidariedade ocupam uma posição cimeira de proximidade, voluntariado e multiplicação eficiente dos meios de responder às necessidades das pessoas com deficiências. Pedem meças às ONGs da ONU e aos governantes que não raro chegam tarde e com eficiência muito aquém dos meios astronómicos de que dispõem e gerem.
No Evangelho temos a parábola do viajante de Jericó, assaltado, roubado e ferido que exemplifica a pessoa com deficiências e as cinco categorias de setores da sociedade: os que assaltam, abusam e multiplicam as deficiências; os que passam pela pessoas com deficiências e viraram a cabeça com dureza e indiferença; os poucos (para tantos sofrimentos humanos) que param e cuidam com compaixão os abusados na dignidade e direitos; e ainda o setor dos estalajadeiros, hospitais de campanha e outros que gerem bem os meios sociais por obrigação legal e movidos por generosidade gratuita.
Funchal