Tive o enorme prazer de participar numa missa dominical na Real Basílica de Santo António e de Nossa Senhora, situada no Palácio Nacional de Mafra, também conhecido por Convento de Mafra da Ordem de São Francisco. Procuro chegar cedo e usufruir da beleza desta Basílica, em particular das imagens que mais gosto de venerar. Como habitualmente, dirigi-me em primeiro lugar ao altar onde se encontra exposta a Nossa Senhora da Soledade, seguida de uma visita ao Santíssimo na sua belíssima capela. Chamou-me a atenção uma relíquia situada ao lado da Imagem de São Francisco. Perguntei a um acólico de quem era a relíquia. Respondeu-me imediatamente: “É mesmo de S. Francisco!” Claro, fazia todo o sentido.
Continuei o meu percurso, maravilhada com toda a imponente beleza que me era dada observar. Deparei-me com o local onde habitualmente se coloca o Presépio e que já se encontrava em fase de montagem. A certa altura, em frente ao presépio por concluir, pareceu-me ouvir interiormente uma voz que dizia: “Eu estou aqui, estou aqui!” Seria a voz de Jesus, questionei? Por analogia pensei, que o tempo de Advento, tempo de alegria e de confiança, constitui igualmente o tempo em que Jesus se encontra em processo de amadurecimento e de crescimento no nosso coração, convidando-nos a olhar mais para o nosso interior. Um tempo de reconciliação e de paz que apela à conversão dos nossos corações, a uma maior generosidade para com o próximo, a procurarmos promover um mundo mais justo e solidário, enquanto aguardamos a luz que brilhará na noite de Natal e que irá aquecer os nossos corações.
Perto do local onde me encontrava, estava uma pagela com uma “Oração Para o Oferecimento das Velas” que referia: …”Eu vos peço, Senhor: dissipai as trevas do orgulho, do egoísmo, do ódio, da sede de poder, e fazei que a claridade do vosso Espírito produza no meu coração verdadeiros frutos de perdão, de misericórdia, de comunhão, de alegria e de paz. Que eu seja como esta vela que se consome para dar luz ao mundo até ao fim da minha vida terrena…”
Depois de concluída a missa, dirigi-me ao Palácio Nacional de Mafra, com o intuito de admirar mais uma vez, um Presépio que faz parte do seu acervo da autoria do escultor José de Almeida, em madeira policromada, datado de 1760, situado no primeiro piso. Esta belíssima peça de arte sacra, constitui um verdadeiro bálsamo para o nosso coração, que não me canso de admirar. A Virgem mostra-nos o Menino Jesus recém-nascido; S. José olha para Jesus embevecido; atrás um pastor descobre a cabeça para reverenciar o Menino; encontra-se, igualmente, a figura feminina de Santa Ana em adoração ao Menino, surgem ainda as figuras de uma vaca e um burro. Magnífica obra de José de Almeida, famoso escultor do século XVIII, discípulo de Carlo Monaldi, e mestre de Machado de Castro no desbaste do mármore, sendo um dos maiores escultores da época. Esta peça foi executada na Real Escola de Escultura de Mafra. Por ter sido roubado o Menino Jesus, este foi reconstruído por João Fragoso, por ocasião do restauro por este efetuado.
Como é bom vivenciarmos esta época do Advento que se reveste de uma enorme beleza. Há uma aproximação familiar. Tudo tem mais cor e alegria. As lojas decoradas, a iluminação, as diferentes feiras de natal, as vendas de natal nas paróquias, os presépios, a novena a Nossa Senhora da Conceição, todos os acontecimentos relativos ao voluntariado em que nesta época as diferentes instituições homenageiam os seus utentes, benfeitores e colaboradores, entre tantas outras atividades. Desdobramo-nos em orações pelos que sofrem de alguma patologia, pelos que não podem usufruir do Natal em família, pelos que não têm família e, sobretudo, pela paz no mundo, em particular pelo fim da guerra na Ucrânia com todas as suas nefastas consequências a nível mundial. Alguém me enviou uma mensagem que referia: “Que os olhos do nosso coração não se contentem com as pequenas luzes que iluminam apenas por breves instantes… a Tua luz no meio da noite que nos cerca, para Te encontrarmos a Ti e nos encontrarmos a todos em Ti. Que a Tua luz que vem ao nosso encontro nos faça alcançar um novo horizonte de esperança e encontrar em Ti um rumo decisivo para a vida”.
Através do Portal de Notícias do Vaticano, tomei conhecimento de uma iniciativa promovida pela Associação Fonte d´Ismaele, que me comoveu, na qual o Santo Padre é convidado pelas crianças a acender “uma luz pela Ucrânia” no dia 8 de Dezembro, Dia da Imaculada Conceição de Maria, (iniciativa extensível a todos), na própria varanda de casa/janela, pelas 18horas, enquanto sinal de proximidade às crianças da Ucrânia, e um sinal de esperança para as muitas crianças que vivem forçadas ao escuro e ao frio, reacendendo-se simbolicamente a esperança da paz neste dia dedicado à Virgem Maria, confiando-lhe todo o povo ucraniano. As crianças da Instituição questionaram o porquê das crianças ucranianas com a mesma idade, não terem luz, nem aquecimento, sendo difícil explicar-lhes o que constitui a guerra e a sua dinâmica perversa. Face a este contexto surgiu a ideia, de com esta iniciativa, dar-se um sinal concreto de proximidade e de solidariedade para com o povo ucraniano.
Concluo este artigo com um tweet do Papa Francisco: “O caminho do Advento faz-se com muitos pequenos gestos de paz, todos os dias: gestos de hospitalidade, compreensão, proximidade, perdão, serviço… Gestos feitos com o coração, como passos rumo a Belém, rumo a Jesus, Rei da Paz”.