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Porta do Inferno

  • Dezembro 10, 2022
  • Cultura
  • João Baptista Teixeira

Conversando com minha primogênita, informei a ela meu plano para o dia seguinte. Visitaria pela manhã o Museo Casa de León Trotsky e depois o Museo Soumaya. Ela sabe que La Casa Azul, museu de Frida Kahlo, não dista muito do de Trotsky e me perguntou se também a visitaria. Respondi com irreverência, de forma não muito airosa. Fui admoestado … Respondi então que se a entrada fosse gratuita, visitaria o museu da artista.

Cumpri o planejado e antes do meio-dia cheguei ao local em que Trotsky viveu por mais de um ano com sua segunda esposa, Natalia Sedova, agraciado pelo asilo concedido pelo presidente mexicano Lázaro Cárdenas. Não admiro o comunismo e seus líderes, mas não há como negar que Liev Davidovich Bronstein, mais conhecido como Léon Trotsky, foi um sujeito corajoso. Organizou o Exército Vermelho e o comandou na luta da contrarrevolução. Deslocava-se num trem blindado, mas colocou o pescoço a prêmio.

Até chegar no México, Trotsky esteve na ilha turca de Prinkipo, na França, que o expulsou, e na Noruega. Um painel do museu  reivindica que “En toda la historia del movimento obrero mundial no hay nada parecido a la persecucion sufrida por Trotsky y sus seguidores. La familia entera de Trotsky fue eliminada, excepto sus nietos …”. Com três torres de vigilância e agentes para sua proteção, com algumas portas e janelas blindadas, Trotsky estava relativamente seguro. Tinha auxiliares e trabalhava em seu escritório, ligado ao quarto do casal. A casa era modesta. Trotsky cuidava de galinhas e plantas nos intervalos, para arejar as ideias. Tudo parecia sob controle até que Ramon Mercader, stalinista espanhol, abreviasse sua existência. Trotsky pagou o preço por contrariar Stalin, o brutal georgiano que Lenin não elegera como sucessor.

Antes da entrar no pátio da casa os visitantes podem apreciar algumas fotos históricas e uma bem elaborada linha do tempo: em 1919 nasce a Terceira Internacional para propiciar a revolução mundial, Zapata é assassinado, o Partido Comunista Mexicano é fundado; em 1922 cria-se a URSS; em 1923 Villa é assassinado;  em 1924 morre Lênin; em 1925 Maiakovsky visita o México e é recebido por Diego Rivera; em 1928 dinamitam a estátua Cristo Rei em Guanajuato e recrudesce a Guerra Cristera; em 1929 Stalin expulsa Trotsky, o México rompe com a URSS e Diego Rivera é expulso do PCM. Na década de 90 pesquisadores de Pittsburgh descobriram que Rivera, enojado com o pacto Stalin-Hitler, colaborou com os EUA, informando métodos de financiamento do PCM e os advertiu sobre a chegada de comunistas espanhóis exilados que pretendiam criar no norte do país células contra os norte-americanos.

Deixei o museu com muitas sensações a reverberar e decidi dar um pulo no Museu Frida Kahlo. O ingresso custa sete vezes mais que o do Museu Trotsky e havia uma fila considerável para aquisição do mesmo. Detalhe: para o dia seguinte. Os ingressos do sábado estavam esgotados.

Dei meia volta e fui para o Museu Soumaya, criado pelo bilionário Carlos Slim em homenagem à esposa falecida. No hall de entrada um painel de Rivera e uma reprodução magnífica da Porta do Inferno, de Rodin. O museu tem obras de Botticcelli, Van Gogh, Renoir, Degas, Pissarro, Rubens, Da Vinci, Monet, Renoir e outros craques, além de mais de cem esculturas originais de Rodin, só perdendo para o museu do grande escultor em Paris.

Um detalhe: o ingresso é gratuito, a espera foi diminuta, o ambiente interior é moderno e todos os seis pisos são climatizados. Slim é católico na tradição libanesa e suas fundações cooperam em educação e saúde. Não temos no Brasil esta tradição de beneméritos, ainda que os haja. Boa parte de nossos milionários buscam favores dos governos e pouco contribuem para a comunidade em que vicejaram. Slim deveria ser um bom exemplo para os bilionários brasileiros.

Fiquei a pensar por que Frida desperta tal interesse. Buscou uma identidade mexicana, traduziu dor em sua obra, pertenceu ao PCM, onde conheceu Rivera, teve abortos espontâneos e tentou algumas vezes o suicídio. Morreu em 1947 e permaneceu um tanto desconhecida até a década de 70. Foi então redescoberta por ativistas políticos e transformada num ícone do feminismo.

Rodin escolheu A Divina Comédia como fundamento para a Porta do Inferno, colocando no alto a figura do Pensador, identificado como Dante, a observar os Círculos do Inferno. A réplica, em bronze, é magnífica. E segue atual.

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