“A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou” (Fernando Pessoa)
Por favor! Diga-me o quanto de amor te bastou ao longo da tua caminhada ao porvir? Para alguns foram muitos; outros nem tanto. Sempre há um começo e um seguir. O amor é uma forte afeição por outra pessoa nas relações parentais ou afetivas. É um sentimento duradouro, mais profundo e estável; diferente da paixão, mais intensa e rápida, ligada ao prazer e ao sexo.
Pois é chegado o momento de voltar ao passado; mais precisamente a meados dos anos 50 do século passado. Sair em busca de um amor exigia bagagem exterior de ser bem situado, ter um bom arcabouço. Carro era para ricos; a classe média ostentava a bicicleta, bem enfeitada e com os acessórios necessários.
A bicicleta representava “status”; partia-se do pressuposto de uma pessoa em franco desenvolvimento, em conquista da riqueza e ascensão social. Neste tempo, pouquíssimas pessoas podiam ostentar certos bens de consumo, entre eles a bicicleta. Nossos pais cuidavam para “ter comida à mesa”, roupas para vestir a família e a própria moradia.
Dar estudo aos filhos era o mais importante objetivo dos genitores. Dificilmente eles tinham um curso além do primário; muitos só sabiam ler e escrever. Aos filhos, a pretensão de assegurar o estudo e melhores dias, era meta primordial. Muitos dos nossos antigos eram “self-made men” – homens feitos por si mesmos – autodidatas, que conseguiram vencer na vida por si próprios.
Naquele tempo o rádio/gabinete já era bastante difundido e muitas famílias o possuíam, para o próprio deleite. Entretanto o rádio portátil, ainda mais o de tamanho grande, possuí-lo implicava na realização de uma grande aspiração pessoal. Os afortunados, passeavam com suas bicicletas, trazendo o rádio portátil consigo, sintonizado em rádios com notícias e boas músicas.
Lá seguia o nosso felizardo, empurrando a bicicleta, ouvindo o rádio e com uma bonita moça consigo caminhando, feliz por ter um namorado dentro dos padrões da modernidade. Desciam pelas calçadas da Ramiro, em direção à Praça ou Osvaldo Aranha, rumo ao Café Guanabara, para comer dos seus deliciosos sorvetes.
Dos amores cada um guarda as suas lembranças; o ideal foi acalentado por um tempo; acabou, ou foi alcançado – cada um faça a sua própria avaliação. Muitos de nós idealizamos castelos, quem sabe de areia, que o vento derrubou. Outros tantos o alcançaram, por vezes sem o saber. Há quem diga que nós outros, por vezes, somos instrumento da realização do ideal de outrem!
Pois seguimos nossa caminhada, hoje já provectos andarilhos pelas veredas a nós abertas pela própria vida. Guardamos na memória os idílios mais significativos – os amores mais ternos e importantes. Somos um porto seguro aos fatos românticos do tempo de antigamente; deles lembramos e ainda suspiramos. Por vezes me pergunto: O que teria sido da minha vida, se tivesse optado por um outro amor?
O amor, quando se revela/ Não se sabe revelar/ Sabe bem olhar p’ra ela/ Mas não lhe sabe falar/ Quem quer dizer o que sente/
Não sabe o que há de dizer/ Fala: parece que mente…/
Cala: parece esquecer… (do mesmo autor).
ENVELHECER NÃO É FÁCIL, MAS É, DEFINITIVAMENTE, A ÚNICA FORMA DE NÃO MORRER JOVEM – Ali Klemt.