Decidíramos viajar no horário do jogo contra a Croácia. Assistimos parte do primeiro tempo enquanto almoçávamos e partimos. Imaginava que, no país que um dia foi do futebol, a estrada estaria vazia. Surpresa: bastante movimento, o que mostra que a religião do futebol e a fé na nossa seleção vem caindo. Ainda assim são comuns algumas manifestações exageradas. Alguns não querem perder o pontapé inicial, outros querem assistir absolutamente sozinhos e há os tantos que se fantasiam para assistir uma partida, com chapéu, apito, corneta e outros objetos barulhentos. Particularmente gosto de assistir em grupo, desde que ninguém fique na frente do aparelho, porque aí já é demais, não é mesmo?
Estávamos quase chegando em Osório quando Neymar, nosso único fora-de-série, marcou. A cinco minutos do final da partida. A magra vitória nos levaria à semifinal da Copa e, segundo o narrador, a equipe da Croácia estava exausta. Me mantive prudente, até porque não subestimo adversário algum, muito menos da turma dos Balcãs e adjacências.
Então, de forma amadora, perdemos a bola no ataque e os croatas avançaram em alta velocidade, pegando o Brasil completamente desorganizado, como se fosse um time inexperiente, sem comando, sem coesão. Jogo empatado e prorrogação … Nada muda e começam os pênaltis. O goleiro croata confirma sua qualidade, defende as duas primeiras cobranças e o Brasil está eliminado.
Multiplicam-se as explicações, ornadas por muita indignação. Mais uma vez nossa seleção morre nas quartas-de-final e posterga melhor sorte. Minha decepção foi pequena, porque sequer alimentava grande expectativa com uma seleção que em momento algum empolgou. Muitos acreditavam que nosso plantel era o melhor da competição. Honestamente não sei como chegaram a esta conclusão. Tínhamos na equipe laterais modestos, um meio-campista que não lustra as chuteiras do nosso passado glorioso e atacantes que, no conjunto, desapontaram.
Mas não me prendo aos aspectos técnicos e táticos, assuntos que não domino por inteiro porquanto não passo de um torcedor com décadas de arquibancada, muito mais televisiva que concreta. Mas claro estava que mal tínhamos um time. Enquanto isto os nefelibatas pensavam que tínhamos dois grupos de onze capazes de fazer frente a qualquer seleção.
Vamos ao extracampo, que no meu entendimento explica nosso “acreditamos como nunca, perdemos como sempre”. No primeiro confronto Neymar machucou-se. Coisas do jogo. Logo revelou que chorara noite afora. Coisas da sua personalidade, negativas. Ora, se chorar produzisse algo, as carpideiras teriam extraordinário sucesso na vida.
Na terceira partida um lateral, tecnicamente muito limitado, machucou-se. Mais uma vez as lágrimas tiveram destaque. Vem a partida nas oitavas-de-final e goleamos. Muitos cabelos descoloridos e, a cada gol, dancinhas ensaiadas. Para um comentarista inglês – e também para o meu gosto,- desrespeitosas com a fraca Coréia. Como treinador, proibiria. Coisas deste tipo esporeiam o amor-próprio do adversário. Pelé nunca faria uma bobagem destas.
Dias antes da partida que nos enviou mais cedo pra casa, uma refeição com alguns jogadores num restaurante caríssimo – com a presença midiática de Ronaldo Nazário e de um chef exibicionista, que corta a carne e atira o sal com um gestual estudado,- que incluiu carne “temperada” com ouro. Coisa triste. Indagado se tal refeição não era algo perto de um desaforo com tantos brasileiros pobres, Ronaldo saiu-se com uma pérola: não, pelo contrário, aquilo poderia servir de estímulo a muitos, para que trabalhem e lutem para um dia poderem fazer coisas parecidas. Como se vê, que um cantor cante, um pintor pinte e um jogador jogue. E só.
Quando chegávamos em Tramandaí, Brasil eliminado, vimos, num bar que armou-se para receber torcedores, uma banda cumprindo tabela. Quando aprenderemos que um time precisa de líderes fora e dentro do campo? Que os chorões não podem ser mais que coadjuvantes?
Antes de chegarmos ao nosso destino, uma cena tocante: um vendedor de rua recolhendo de um varal bonés e bandeiras do Brasil. Nem lágrimas muitas retratariam melhor a dura realidade.