A Epifania não se limita ao tempo litúrgico dos Reis Magos, do Batismo de Jesus e às Bodas de Canaá. É fundamental estender o conceito de manifestação de Jesus como relação de pessoa para pessoas no espaço e no tempo até à sua manifestação global. Epifania de alguém, pela raiz phan, é aparecer a alguém a brilhar e pela raiz epi (à volta de um ponto) no espaço e no tempo a alguém, e a tornar-se conhecido, de mais pessoas como fenómeno significativo, a caminho da globalidade a estudar pela “Globalogia” (cf. José Eduardo Franco DN F. 09.01.2023).Como brilho, a manifestação de Cristo Menino alastrou-se no espaço, em círculos irradiantes e no tempo cronológico desde o I século.
Seguindo os episódios bíblico-evangélicos poderia descrever-se o ritmo da manifestação de Jesus Cristo no espaço e no tempo cronológico. Começou pela anunciação a Maria pelo anjo, a Isabel, na Visitação, a S. José em sonhos pelo anjo. Já nascido, pelos anjos aos pastores, no templo com S. José e Maria, pelo Espírito Santo ao velho Semião e a Ana. A grande Epifania foi pela estrela aos Magos. A seguir terá chegado conhecimento de Jesus a regiões do Oriente e ao Egipto. No Jordão, o Pai revela a João que Jesus é seu Filho amado (Mt 3,17), nas bodas de Caná manifesta-se com pedido de sua Mãe (Jo 2,1-11); no Tabor o Pai indica-O como Palavra a ser ouvida; e no Calvário, o centurião proclama-O «Filho de Deus” (Mt 27,54) e o ladrão diz que é dono de um Reino.
Nova fase epifânica ocorreu pelo Império Romano e espalhou-se pela Euro-Ásia, Índia (Madras) e norte da África. Pelo século VII terá chegado a Shian, antiga capital da China, como documenta a sua biblioteca das Estelas. No dobrar dos séculos XV-XVI, deu-se a quase globalização nos continentes descobertos por iniciativa dos navegadores espanhóis e portugueses e os missionários que os acompanhavam a quase todo o globo. Apesar das limitações poderíamos falar já de Epifânia Globalizada de Jesus e da Igreja nos vários continentes, embora não em todas as parcelas habitadas. A invenção da imprensa facilitou a divulgação da Bíblia e da difusão de livros das línguas e escolas evangelizadoras.
As fronteiras dos mares e os limites da globalização iam continuar a ser vencidos com a ajuda dos progressos náuticos de cruzar os oceanos mais rapidamente, permitindo que aos marinheiros se juntassem mais emigrantes e missionários que partilhavam os brilhos cristãos da sua cultura com os povos de acolhimento. Este passo foi facilitado pelos barcos a vapor. Aumentou o número de pessoas, em dioceses, com novas igrejas, capelas, alminhas, livros e bibliotecas que davam Cristo a conhecer as novas Tribos e povos
Além do aumento vertiginoso das bíblias, livros, revistas e jornais; os tele-meios de difusão de conhecimentos, rádio, telégrafo, televisão e, mais recentemente, as redes sociais, associadas ao uso dos aviões, provocaram diversas explosões nos ritmos da manifestação de Jesus e da sua Igreja ao mundo. Haverá, hoje, algum recanto de território habitado e povo que não tenha sido alcançado pelo brilho de Jesus Cristo e do seu Evangelho? Torna-se pertinente a questão do título deste texto. A Epifania de Cristo já atingiu a globalização plena, nos espaços povoados e no tempo cronológico de 2023? Não só pensamos que sim, mas opinamos que Jesus é o personagem e o fenómeno mais globalizado.
À medida que a “globalogia” se desenvolver poderá avaliar-se, de entre as pessoas e fenómenos mais globalizados, qual deles leva a palma. Mais pertinente é perguntar quando se realiza o mandato de Jesus: «ide por todo o mundo anunciai o Evangelho a todos os povos, baptizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (cf. Mt 28, 19).
Funchal, Epifania, 8 de janeiro de 2023