Retomamos nossas considerações sobre Aristóteles e desta vez, vamos explorar um pouco sua concepção sobre ciência, ao mesmo tempo em que se instala uma preciosa querela entre este sábio e seu mentor Platão. Inicialmente, Aristóteles distingue cinco virtudes intelectuais: a técnica – ou – arte, o conhecimento – ou – ciência, a sabedoria, a prudência e a inteligência. Entretanto, esta episteme ou conhecimento verdadeiro, de natureza científica, não corresponde à noção de ciência moderna porque ela não inclui a experimentação.
Enquanto o conhecimento científico é considerado como a ciência das verdades eternas, já a técnica e a arte se consagram ao que o homem desenvolve, a sua produção. Além disso, enquanto a ciência deve ser aprendida em uma escola, por outro lado, a técnica vem da prática e do hábito. Prosseguindo: para Aristóteles, a ciência utiliza a demonstração como um instrumento de pesquisa; para ele, demonstrar é mostrar a necessidade interna que governa as coisas e é, ao mesmo tempo, estabelecer uma verdade através de um silogismo baseado em premissas seguras.
Aqui cabe uma pequena nota como revisão: silogismo é o raciocínio dedutivo rigoroso que liga as premissas a uma conclusão (as premissas são cada uma das duas proposições iniciais de um silogismo, de onde se tira a conclusão). Este pensamento se refere à ciência; entretanto, no tocante à prática, o modo de demonstração das diferentes ciências difere segundo a especificidade de seu objeto. A divisão ternária das ciências – teórica, prática e produtiva – não inclui a lógica, segundo o mestre; e por que? Porque a lógica, por sua vez, tem como tarefa formular “os princípios de uma argumentação correta que todas as áreas de pesquisa têm em comum”.
Avançamos : segundo Aristóteles, a lógica visa estabelecer os padrões de inferências (relações de causa e efeito) em alto nível de abstração, os quais devem ser seguidos para evitar conclusões falaciosas. A seguir, o que chamamos de “ciência produtiva” é aquela que depende da técnica e da produção (em grego, “poiesis” ou “poesia”, e que significa “criação”)! Por último, temos a ciência prática, a qual está sujeita à ação habitual e inclusive a um tipo de ciência “menor”, na medida em que ela também busca soluções confiáveis no “interior das coisas”.
Passamos agora a tipos de ciência que constituem um vasto campo do pensamento, certamente uma das maiores amplitude do raciocínio humano. Inicialmente, temos a ciência especulativa ou contemplativa, a qual é isenta da matéria, constitui o fim em si mesma e chega à conclusão do pensamento; segundo Aristóteles, esta ciência constitui o melhor uso que o homem pode fazer de seu tempo livre porque, desapegado de suas preocupações materiais, ele pode dedicar-se à “contemplação desinteressada da verdade”!
Entretanto, além dessa possibilidade, existem tantas divisões da “ciência teórica” quanto objetos de estudo, ou seja, diferentes campos da realidade – gêneros, espécies. Aristóteles distingue a “filosofia primeira” – que será a futura metafísica – a qual tem como objeto de estudo a totalidade do que é, repetimos, ele a distingue da matemática que trata dos números, dito de outra forma, das quantidades em geral, extraídas da realidade pela operação da abstração, e ainda a física ou “filosofia natural”. Esta física, preliminarmente, ela atesta o desejo de compreender o universo como um todo, ates de fazer qualquer pesquisa empírica; ela também procura os fundamentos em geral, bem como a primeira e a última causa de qualquer movimento em particular. A filosofia natural de Aristóteles não se limita à física propriamente dita, como a compreendemos hoje; ela inclui biologia, botânica, astronomia e possivelmente psicologia.
Como constatamos, a visão aristotélica é a mais ampla possível sobre este nosso universo. Neste ponto, marchamos em direção à querela de ideias que nos outorgaram Platão e Aristóteles, sendo este último vinte e cinco anos mais jovem que seu mentor. Segundo Aristóteles, Platão concebe a “essência ou a ideia como um ser existente em si, independente da realidade sensível”, de sorte que a ciência deve ir além do tangível para então alcançar os chamados “elementos inteligíveis, universais, imutáveis e autoexistentes”.
Desta maneira, opõe-se o grande inconveniente de pensar as ideias ou o universal como independentes do “sensível”, o que nos afasta do conhecimento “real”, conforme Aristóteles. Para ele, a essência só pode existir encarnada na matéria, todavia, para Platão, o universal pertence ao domínio das ideias, e nada se altera a essa realidade existente.
Finalizando, o “universal” aristotélico consiste inicialmente em reconhecer a essência, mas termina por agregar a materialidade ao fato concreto; de tal forma isso acontece, que ele chega a qualificar o homem como um “animal político”. Terminamos nossa classe por aqui, mas oportunamente faremos uma apresentação sobre o principal conceito aristotélico, o da “vida política”. Até a próxima!
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