Neste trecho do extenso saber do mestre Aristóteles, dedicamo-nos à política – ou – a maneira como, segundo ele, deveria ser organizada a cidade, em grego, πόλις, polis. Como já vimos em nossa classe anterior, o homem é por natureza um animal político, a saber, o indivíduo não pode encontrar seu bem ou a sua felicidade independentemente de sua sociabilidade.
A “cidade” e a política que a sustenta constituem, ambas, as condições necessárias à felicidade humana. Por princípio, a sociedade serve ao homem não somente para ele ali viver, mas também para ele ali bem viver. A sociedade ou a cidade que sustentamos e que nos sustenta, por sua vez, ela não é somente um agrupamento para evitar um mal, ou para a troca de serviços entre as pessoas; essa situação não representa, tampouco, um agrupamento de pessoas que dividem as funções tendo em vista uma vida mais confortável.
Essa vida em comum é essencial à desligada de quaisquer imposições estrangeiras, condição da “vida boa” dessa reunião de pessoas. Seguindo o pensamento de Aristóteles, o objetivo da “cidade” é a sua independência econômica, “desvinculada de qualquer relação coercitiva com cidades estrangeiras”. Em uma palavra, o propósito da “cidade” é a autarquia – ou autocracia – ou, simplesmente, autonomia; é nela que as pessoas podem ser felizes, participando de sua reunião em comum.
Prosseguindo nesse rumo, ressaltamos que a família é a unidade econômica que compõe essa cidade por excelência; quando a “polis” tem tudo o que precisa para produzir o necessário para o consumo de seus membros, ela movimenta-se e procede à troca do excedente dessa produção com outras cidades. Na família não há trabalhadores originários daquela região – os livres – nem assalariados, somente aqueles “estrangeiros” que se ocupam da lavoura como geração de riqueza.
É dessa forma e com esse mecanismo que os nativos da “cidade” podem consagrar-se ao lazer do estudo (scholê) e aos debates da vida moral e das questões cívicas; enfim, é assim que se estabelecem as condições dessa organização econômica. Esta é a mecânica moral que impulsiona a política, segundo Aristóteles.
Vamos aprofundar um pouco mais e dessa forma faremos uma tentativa de sistematização pedagógica. Tratamos de moral e política nos textos de Aristóteles; a moral do mestre é essencialmente eudemonista, ou seja, voltada ao prazer e à felicidade no fim da vida (o que era habitual nos tratados de moral da Antiguidade).
Mas surge a questão, à época: “o que é felicidade”? É essencialmente a atividade da razão que se consagra à contemplação: a vida contemplativa corresponde ao impulso que há em nós e que nos permite compreender o “bem”; dessa forma, ela nos possibilita o atributo maior de todos, o “bem por excelência”, supremo em cada um de nós. A essa benesse o autor acrescenta o “prazer”, o qual ele não negligencia, porque este também compõe um elemento da “felicidade”.
Esta análise moral não poderia ser dissociada da política; como todos os grandes pensadores, Aristóteles unifica a moral – que é o estudo do que é bem e bom – e a política – a ciência da “cidade”. Como dissociá-los, quando o homem é fundamentalmente um “animal político”, nascido para viver na “cidade”? Analisando a organização da “cidade”, Aristóteles aborda as várias formas de governo e distingue três delas: a chamada “monarquia”, onde o estado é dirigido em direção ao interesse comum, e a “aristocracia”, também comandada por uma só pessoa, e ainda a “república”, onde a multidão governa por utilidade pública.
A realeza pode degenerar em tirania, a aristocracia em oligarquia e a república em democracia. Especificamos alguns dados sobre o autor: data de nascimento, -384 a.C.; morte, -322 a.C. Categorias de obras-primas: metafisica, física, política, poética, ética. Principais conceitos: justiça, política, verdade, alma, sabedoria, bem, democracia, metafísica, moral.
Foi influenciado por Sócrates e Platão. Durante a Idade Média, seus conhecimentos são transmitidos ao mundo islâmico através de Avicena e Averróis, e ao mundo cristão com São Tomás de Aquino. Foi inspirador de todos os filósofos, destacando Kant (séc. XVIII), Tomás de Aquino (séc. XIII) , Nietzsche (séc. XIX), Husserl (séc. XIX-XX), Rawls (séc. XX-XXI).
Chegamos ao momento de conclusão de nosso texto: Aristóteles, da lógica à política, trouxe-nos assim a visão das estruturas que, ainda hoje, informam nossas vidas; a figura do Sábio destaca-se plenamente em sua obra, ela designa aquele que possui o conhecimento de todas as coisas; não se pode negar que este é um belo ideal a seguir, mesmo que seja um mínimo representante do conhecimento e da cultura.