Não, não me refiro a óleo de rícino ou outras coisas que fazem regurgitar. O adjetivo foi empregado por pessoas da esquerda, “do bem”, para achincalhar eleitores de direita no pleito recente. Quanta tolerância! Quanta elegância! Que bela demonstração democrática!
Não chegamos nisto de repente. Tais sandices vêm num crescendo, mais veloz agora, quando os fanáticos parecem sem pudor algum para ditar o andar da carruagem. Pura imprudência, filha da arrogância, incapaz de fazer a leitura dos fatos: o resultado foi parelho e portanto quase metade dos eleitores não apoiam o governo atual.
Amigo de longo tempo tem denominado os eleitores da esquerda de imbecis. Perguntei a ele se não teme processos nestes tempos de mimimi. Respondeu que não e tem um argumento que me pareceu consistente. Quem pode declarar-se ofendido e abrir um processo por qualquer destas razões que açulam os caçadores de reparações? Ora, quem votou na esquerda. Mas quem pode provar em quem votou se não há voto impresso? Cada uma …
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Por falar em mimimi, como anda chato este mundo! Chato e perigoso. Algumas decisões judiciais não chamam o sujeito às falas, como se dizia antigamente, mas aplicam multas pesadas, com valores absurdos, que atuam como mísseis teleguiados na vontade de prosseguir, de buscar a verdade e de defender o direito à livre expressão. Sou avesso às minúcias do Direito, mas pelo que sei o inciso IX do artigo 5 da nossa constituição não foi revogado: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
Como temos assistido decisões com alguma estranheza, noto que o medo se instalou e as pessoas passam a viver sob a pior das censuras: a autocensura. Que se espalha como rastilho de pólvora, sobretudo pelo silêncio sepulcral de instituições que reúnem advogados ou defensores dos direitos humanos. Por falar nisto, o artigo 19º da Declaração Universal enuncia que “todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão”. Como se vê, os árbitros enviesados só marcam pênalti contra o time adversário. E não temos VAR …
O que fazer? No terreno religioso buscamos remanso, os católicos, nos Padres da Igreja, aqueles que nos sopram verdades lá dos cimos da Patrística. Assim, pedindo vênia pelo paralelo pobre, podemos nos socorrer nos momentos sombrios com o conselho e a história das melhores penas que o país já produziu. Otto Lara Resende é uma delas. Se disse “um sobrevivente sob os escombros de valores mortos” e perdera a fé na literatura. Numa entrevista que concedeu a Paulo Mendes Campos, Otto não teve peias: “Já não se fazem escritores como antigamente”.
Sobre sua profissão e cidadania: “Uma coisa pelo menos quero deixar clara: meu horror à censura”. Os jornalistas de hoje, que não lustram os sapatos deste mineiro que os precedeu, andam a aplaudir o cerceamento da liberdade de expressão, quando não silenciam a respeito. É o cúmulo. O jornalismo engajado, cego aos fatos e obediente à cartilha da esquerda, é uma vergonha. Numa linha oposta a esta visão caolha, farisaica e burra, Otto afirma: “Só é grande o que sai de si, o que se sacrifica, se mata pelos outros. O egoísmo é um brejo”.
Como é bom ler as ideias de um jornalista com seu talento, sua generosidade, e descobrir que não estamos sós: “Dói nunca ter feito nada. Num país como o Brasil, este enxame de crianças miseráveis, maltrapilhas, dói ser brasileiro. É um vexame. Tantas coisas vexatórias: brasileiros divididos. A ação política é cruel, baseia-se numa competição animal, é preciso derrotar, esmagar, matar, aniquilar o inimigo“. Definitivamente o país emburreceu.
Na mesma entrevista se declara bem humorado, mas “Pessimista sobre o homem: saco de esterco ambulante, com direito a florir. Alguns florescem. Poucos.” Se não podemos extinguir a mediocridade, pelo menos podemos buscar fôlego no legado dos nossos melhores.