Sem linha, não há nó, mas é o nó que valoriza o trabalho da linha. A bem portuguesa expressão “não dar ponto sem nó” significa que a ação (dar o ponto) deve estar bem preparada e pensada (com nó) para ter sucesso.
Em certa festa de um colégio mexicano, o professor de religião perguntou numa aula do último ano se alguma aluna gostaria de dar o seu testemunho em relação ao que aprendera naquele estabelecimento de ensino. Uma delas afirmou que, mais do que a matemática, a história, as línguas…, valorizava muito, e agradecia ao colégio, o facto de saber o que queria, sentindo-se preparada para entrar na faculdade e seguir o caminho que escolhera. Em contraste, quando voltava à sua terra de origem e conversava com familiares e amigas, reparava que careciam de orientações na sua vida; não pensavam no futuro, no que iriam fazer…, algumas confessavam que não sabiam o que se esperava delas…: não se conheciam a si próprias.” Não sei quem sou”, dissera-lhe alguma.
A rapariga animava-as a pensar. Dizia-lhes que, nas suas idades, tinham o futuro com um grande leque de opções à sua frente e que era chegado o momento de pôr mãos à obra. “Somos filhas de Deus”, dizia-lhes, “Somos inteligentes e, portanto, capazes de escolher o bem; temos uma vontade que nos capacita para exercer esse bem, somos capazes de amar… É daqui que devemos partir: conhecer Deus mais e melhor. Quando aprendemos a costurar, as nossas mães ensinavam-nos a fazer um nó no princípio da linha; sem ele, a linha deslizaria e o trabalho ficava sem efeito. O nosso primeiro Nó na linha de cada vida deve ser acreditar em Deus e, por esse motivo, fazer a sua vontade, seguindo o conselho dado por Nossa Senhora aos servidores das bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.
Vale a pena seguir a linha de pensamento desta aluna mexicana no início da Quaresma, neste ano de 2023, pois Portugal prepara-se para uma Jornada Mundial da Juventude presidida pelo Papa Francisco. É esta uma boa ocasião para dar nós. Ouvir o que o Papa tem para nos dizer, pode ser o primeiro nó a dar neste contexto. Mas existem nós intemporais aplicáveis nas linhas de todas as vidas. O maior Nó deve ser seguir o que Deus sugere a cada pessoa em cada momento da vida. Ao dar este nó com determinação, com vontade, dá-se firmeza à linha da fidelidade.
É necessário aprender a dar nós, e isso é difícil, dá trabalho e sofrimento. Estes nós do trabalho, das dificuldades e sofrimentos unem-nos a Cristo e aos outros. Já são nós comuns dos adultos que levam alguns anos de vocação vivida. São estes nós que nos preparam para o final da linha da vida, seja essa linha curta ou longa.
Na verdade, são cada vez mais as pessoas que têm uma vida longa. O desgaste é visível nas suas rugas, cabelos brancos, dores várias, perdas de memória e de independência, incapacidade de movimentar-se e trabalhar. É chegado o momento de dar o Nó da Paixão e Morte de Jesus; o nó da paciência e do perdão: suportar em silêncio incompreensões, troças, abandonos. É o momento de dar o Nó que nos dará a felicidade eterna, o Nó que nos ligará para sempre a Deus para jamais se desmanchar. O Nó da verdadeira felicidade, da obra acabada.