Pelas ruas da cidade, muito caminhei!
Neste tempo de provecta idade
Os passos encurtam
A distância diminui… Minha cidade
Pelas tuas ruas já não caminho… Como d’antes.
Da Ramiro até a José Luiz, antes do Posto Texaco, seguia, por muitos dias, a comprar carne no açougue, antes ali existente. Carregava um cestinho e o entregava ao açougueiro, junto com o dinheiro e dizia: “Prá tudo isso de carne”. Ele era amigo dos meus pais e sabia direitinho o tipo de carne que eles queriam.
Eu tinha uns seis ou sete anos; naquela época, as ruas do centro ofereciam segurança aos que caminhavam por suas calçadas. As autoridades policiais eram respeitadas e todos andavam na linha; ébrios e vadios acabavam por tirar alguns dias no “boi-preto”. Na reincidência eram processados pela prática das contravenções penais de vadiagem e embriaguez.
A rodoviária da cidade era no centro: primeiro ao lado do Café Central e Hotel; depois no prédio da Associação Comercial, junto ao Café (Hoje Loja Theisen). No ano de 1954/55, resolveram mudar a rodoviária para a rua Santos Dumont, esquina Ramiro. Muitas críticas ao Poder Público, por permitir uma mudança para lugar mais afastado: “grande erro”, diziam os mais revoltados. O seu Rodolfo Gauer construiu o prédio da nova rodoviária e um café. Com isso, o centro da cidade ganhou nova dimensão.
Assertiva correta, pois o centro sempre foi mais abaixo: Da Livraria Lutz até a área dos bancos. Também se caracterizava como área da gastronomia. O Café Elite (defronte ao Riograndense), o Central, o Comercial e depois o Líder; com suas churrascarias, restaurantes e bares. Paulatinamente foram desaparecendo; primeiro o Elite, depois os outros, restando tão somente o Comercial (por vontade de anteriores dirigentes da ACI, deveria ter sido fechado, também).
Além da gastronomia, o lazer, os bailes e boates, com os dois clubes: Riograndense e Chimarrão, depois Clube do Comércio. A praça, seus contos e histórias daqueles em seus bancos sentaram, assistindo o passar das meninas; por ali muitos namoros iniciaram, alguns por acabar defronte do altar.
Lembro do “snooker”, comandado pelo Sadi (de saudosa memória). Primeiro no Hotel do Spohr e depois aos fundos do Líder. Impossível olvidar os cinemas: o Goio-En e depois o Tanópolis. Em pouco mais de duas quadras, o montenegrino podia encontrar de tudo para o seu divertimento e satisfação. A lembrança dos sorvetes ainda se mantém em nossa memória; os cafés produziam os próprios sorvetes, em diversos sabores. Aos fins-de-semana, eles dispunham mesas nas calçadas e por vezes até na rua. Famílias podiam sentar e tomar sorvete, beber geladas cervejas e refrigerantes.
A área financeira concentrava-se na esquina formada pelas ruas Ramiro e José Luiz: Nacional do Comércio (Itaú), Banco da Província (Caixa) e Banco Industrial e Comercial do Sul (Santander). O banco do Estado ficava nas proximidades da praça e o banco do Brasil na rua Osvaldo Aranha, até a construção do novo prédio, na Ramiro, onde ainda hoje se encontra.
Boas lojas de fazendas, roupas e armarinhos. Cá em cima, a Loja Comercial, do seu Edmundo Krohn; Loja Brochier, Lutz, Loja Renner, Ótica Koehler, Farmácia Providência, Loja Müller, Loja Coussirat e Livraria Gehlen. Na outra esquina abaixo, a Loja do Albano Schüler. Talvez tenha esquecido alguma, certamente por força do avanço da idade.
Montenegro de Ontem; a de hoje, todos conhecem e sabem.