“De que são feitos os dias?
– De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças”
(Cecília Meireles).
Nas minhas divagações e lembranças, muitas delas silenciosas, busco no passado as coisas que nos foram comuns. Ando pelas ruas da cidade, muitas vezes só em pensamento, a recordar os moradores, as antigas casas de negócios e os saudosos armazéns. Desses últimos, alguém lembrou, hoje desejo escrever e alimentar a saudade.
No meu tempo de guri, a nossa cidade era bem sortida no ramo dos secos, molhados e armarinhos em geral. Os velhos armazéns proliferavam, praticamente um em cada quadra. Só por aqui – duas acima e duas abaixo, eram oito. Recordo do armazém Vogt, na esquina fronteira ao Hotel Montenegro. Abria muito cedo; atendiam a dona Natália e o seu Oswaldo (uma figura folclórica). A Natália cuidava de tudo; desde as compras, o estoque, controle do fiado e atendimento dos fregueses. O seu Vogt cuidava da chácara, na rua dos Plátanos e parte na Ramiro.
Subindo a Osvaldo Aranha, para o Hospital, na esquina de cima, ficava o Galego, mas quem trabalhava era a dona Diva, a esposa. Do armazém e da família ainda sobrou o Galeno, que permanece na cidade. Na esquina da Cel. A. Ignácio estava o armazém do Hugo Orth (antes do seu Marc). Um pouco mais acima, na esquina do Operário, ficava o armazém do seu Vidal, que depois foi do Edegar Oliveira.
Voltando para a Cel. A. Ignácio, na esquina com a Santos Dumont, era o armazém do seu Stroeher, onde pouco comprávamos, pois já distante de casa; um estabelecimento muito bem sortido.
Desde jovem, o Edegar de Oliveira foi padeiro; iniciou na padaria, fábrica de massas, café e bolachas Primor, do Afonso Kunrath. Largou de ser empregado e, junto de familiares, comprou o Armazém do seu Leopoldinho, na Santos Dumont, prédio acima da Princesa. Quem começou o armazém foi o seu Morais, marido da dona Milica, depois funcionária da Prefeitura e Câmara de Vereadores. Anos depois, o seu Edegar vendeu o armazém para o Nelcy Mombach; início do Supermercado Mombach.
Ao tempo do seu Edegar o atendimento primava pela cortesia e bom sortimento. A dona Anita, Pintado e depois o Donário esmeravam-se; primeiro armazém a ter açougue. Mais abaixo, na esquina com a Cap. Cruz, o seu Clotário Brochier comerciava em seu próprio negócio. Ele tinha um bom sortimento de bebidas destiladas e grande freguesia.
Descendo a Capitão Cruz, no meio da quadra, ficava o armazém do Arno Kerber. Estabelecimento especializado em produtos para a beleza e os cabelos, além de armarinhos e miudezas em geral. A esposa, dona Áurea tinha Instituto de Beleza, mas sempre ajudava no armazém.
Finalmente, na esquina abaixo, ficava o armazém do Wehy, pai da Loreni (já falecida), Remi, Regis e Lizete. “Era um ponto estratégico, principalmente por causa da firma Hack e Renner, onde hoje é o Jornal O Progresso” e a Agência Ford. A dona Irma Wehy era quem comandava o balcão e atendimento do público. Pessoa especial e sempre por dentro das novidades da comunidade.
Uma volta ao entorno da minha antiga morada. Os armazéns se distinguiam uns dos outros, pelo atendimento, pelos produtos e variedade de mercadorias em ofertas. Por exemplo, quando a mãe queria fazer rosca, mandava em determinado armazém, porque o polvilho era melhor. A maioria dos fregueses comprava à caderno, para pagamento quinzenal ou mensal. Com os supermercados, os armazéns começaram a desaparecer. Resta a nostalgia, a lembrança.
Com certeza vamos continuar com a ronda dos antigos armazéns em nossa cidade.