Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inatuais esperanças.
(Cecilia Meireles)
O engraçado, mas nada assim transparece, são os lampejos de um tempo, uma simples lembrança, quando alguém te faz rememorar. Recordo, simplesmente para aguçar lembranças, dar asas à imaginação em voo ao passado que nos foi comum. Pois lá vamos nós, dar continuidade a um tempo, quando ir ao armazém, era compromisso daqueles que um dia foram crianças.
Descendo a Ramiro, chegamos ao Armazém Bernardo Griebeler; ele faleceu em 16 de janeiro de 1947 e seu filho Edmundo deu continuidade ao negócio O estabelecimento, localizado na esquina formada pelas ruas São João e Ramiro Barcelos, iniciou as atividades em 1897, com uma visão diferente de atender a clientela. Bernardo foi um inovador; ele era um homem de visão especial para o comércio. Não se contentou com o trivial, fornecido pelos grandes atacados de Porto Alegre; saiu em busca de alternativas e não poucas.
Na capital buscou importadores de produtos europeus, principalmente bebidas e especiarias. Foi para as colônias alemã e italiana e trouxe o melhor em gêneros alimentícios. Os queijos que fornecia eram especiais e ganharam fama… Ainda nos anos 50 eu fui testemunha ocular da grande aceitação dos queijos e outros produtos coloniais, então já sob o comando do senhor Edmundo Griebeler.
Nos anos 40-50, do século passado, o seu Heller tinha um açougue um pouco abaixo da Loja Müller. Encerrou as atividades e, tempo depois, alugou o prédio para o Joãozinho Roeher (Reaher), que se estabeleceu com uma fiambreria e padaria. Foi distribuidor exclusivo dos chocolates da Kibon. Também vendia gêneros alimentícios. Posteriormente, o Conga adquiriu o negócio e deu continuidade, com uma ótima padaria.
Pouco mais abaixo, ao lado par da Ramiro, o famoso Armazém Licks. O atendimento da freguesia ficava a cargo do casal proprietário; os filhos ajudavam, quando não estavam no colégio. O seu Licks vendia produtos especiais e não encontradiços em outros armazéns locais. A senhora minha mãe fazia cerveja artesanal e spritzbier; só nesse armazém lúpulo, cevada, tapinhas e gengibre eram vendidos.
Passando a área dos bancos, a Igreja Luterana, só na esquina seguinte, em um prédio hoje em reforma e ampliação, ficava o Armazém do seu Günther. Como acontecia no passado, o atendimento da clientela estava sob a responsabilidade do casal proprietário. O seu Arlindo era uma pessoa muito divertida; estava sempre contando uma piada, alguma novidade ou brincando com os que se achegavam. Bom sortimento de produtos secos e molhados.
A expressão “secos, molhados, armarinhos e miudezas em geral” tinha seu propósito de ser. Nos armazéns antigos a pessoa encontrava toda a sorte de refrigerantes (que não eram muitos), como gasosa, paquetá, laranjinha, xaropes da Wilco (depois Cidra), Coca-Cola, guaraná (muito recomendada aos doentes), vinhos, cachaça, vermute e conhaque. Gêneros alimentícios encaixavam-se como “secos”, normalmente acondicionados em tulhas e embalados em sacos de papel, segundo a quantidade solicitada.
Em armarinhos e miudezas em geral inseriam-se os tecidos a metro e aviamentos; também carretéis de linha, agulhas, alfinetes, joanas, rendas, linhas de tricô e crochê e outras tantas coisas próprias para costura de roupas e remendos.
Na esquina da Rua Capitão Machado outro armazém e cancha de bochas; hoje o terreno está baldio. Antes da Navegação Montenegro um último pequeno armazém, especializado em produtos de pesca. Destes dois últimos não recordo o nome dos proprietários. O último era do pai do Totonho.