No decorrer dos passados dois séculos, paulatinamente foram surgindo correntes filosóficas cujo objectivo era, essencialmente, negar a existência de Deus, rejeitar todo o possível sentido de ligação com o Criador para atingir a “plenitude da liberdade”, sem coações, normas, deveres ou dependências.
Nietzsche ao defender a teoria do super-homem, afirmando a morte de Deus, dá-nos a noção da existência de um horizonte sem limites, um mar sem fim, ausente de autoridades, de sujeições ou entraves de qualquer ordem.
Também Freud, considerado o fundador da psicanálise, defende a emancipação do homem em relação a Deus, pois recorrer a um Pai superior era para ele uma alienação, um delírio, uma patologia. Libertar o homem desta convicção, desta dependência religiosa era o fim primordial das suas hipotéticas teorias científicas. Sendo de origem judia e não praticante, não se absteve de tecer largos considerandos sobre a vinda de Cristo ao mundo para nos redimir.
Se nos recordarmos que, um pouco antes, Karl Marx denominava a religião como o “ópio do povo”, afirmação esta que sempre me deu para pensar, na medida em que falar de ópio parecia uma realidade normal entre algumas classes intelectuais, o que na verdade, os tempos viriam a confirmar.
Também as descobertas de Darwin e respectivas interpretações que delas foram feitas, contribuiram para a negação da nossa paternidade divina.
Muitos outros pensadores, sociólogos e psicólogos foram unanimes em assinar o óbito divino, o qual a seu tempo veio mergulhar o ser humano no mais desesperante e horrível vazio, tornando-se num órfão desprovido de raízes, sem origem e sem destino numa pandémica neurose de solidão, de desamparo e de insegurança.
Sem Deus o mundo fica à mercê de predadores, o homem torna-se uma coisa, um objecto a usar e exterminar como aconteceu ao longo do século XX nas guerras que lhe assistiram.
Neste tempo da graça que nos é dado viver hoje, o flagelo permanece mas tomou outras proporções: matar a toda a pressa esse farrapo humano, antes de nascer, durante a sua existência, quando esta estiver a chegar ao fim, ou nas circunstâncias em que for considerado ser uma obra de caridade exterminá-lo.
Neste sábado Santo, silenciosamente e meditando na Paixão do Senhor, quero reiterar que Deus existe, é um Pai amoroso, pleno de Misericórdia, ama loucamente todos e cada uma das suas criaturas.
Não tenhamos medo, as águas estão agitadas, ondas gigantes se avizinham, mas Deus está conosco, diz a Sagrada Escritura e nós queremos que Cristo seja o nosso Rei para sempre.
Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna (Jo 6, 68).