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Estamos na Páscoa da ressurreição de Jesus Cristo que nos trouxe a esperança e desejo de, também, sermos ressuscitados. Os povos de todos os tempos desejaram viver para sempre sem saber como seria ressuscitar. Perguntem aos túmulos do Vale dos Reis no Egipto ou às pessoas que na colina-cemitério de Chinchon, na Coreia do Sul, observei a colocar pratos de comida aos túmulos dos seus “mortos” e aos cemitérios de todos os tempos. Os túmulos dos cristãos são mais explícitos na fé porque após a ressurreição de Cristo, não só acreditaram que Cristo está vivo com o Pai pelo Espírito Santo, mas que, também, ressuscitam.
O anseio de vida para além da morte é de todos os tempos como experiência conexa com a da morte, mas Cristo, vivo espiritualmente nos batizados, é convite a crer, pensar e rezar a nossa vida e a dos nossos, à luz das palavras de Cristo e das narrativas dos apóstolos e evangelistas que ainda não tinham entendido o que era ressuscitar (cf. Jo 20, 8-9). Não apenas os temas de arte religiosa em igrejas, cemitérios e museus sobre a ressurreição de Jesus, e dos cristãos, avivam a nossa fé; podemos contemplar a vida natural ligada à matéria em cada ovo vivo, embriões humanos e sementes e imaginar o sonho de uma conversa dentro de cada um: estamos vivos e vamos viver, mas não sabemos como e quando este barro se desfizer.
Os batizados, porém, não apenas veem que estão vivos antes da morte, mas acreditam em Cristo ressuscitado, que vão viver por Ele após a morte, embora não saibam como será esse modo de viver se o corpo se desfaz no cemitério.
São Paulo disse que agora só sabia em parte, mas quando ressuscitado saberia plenamente através de uma relação de amor de místico em visão real face a face com Deus, um amor de ressuscitados: “Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido. Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor (1 Cor.13,12-13).
Há como que um modo de dizer o real da ressurreição de Cristo e muitas maneiras, e tentativas, para dizer os modos, mais prováveis ou grosseiros de dizer como será viver ressuscitado, para Cristo e nós. As tentativas de o dizer podem mudar, à medida que passam séculos e milénios, mas não muda a realidade.
Uns e outros dizeres afirmam a fé na ressurreição real de Jesus Cristo, mas as elaborações verbais eruditas tendem a rejeitar as mais imperfeitas. Importa, porém, quanto possível, ressalvar a boa intenção dos que professaram a sua fé com elas. Alguns estudiosos eruditos podem estar convictos de que a sua linguagem sobre a ressurreição é a correta ou mais acertada, mas nada garante que não se encontrem melhores formulações para a mesma realidade da ressurreição, aqui ou então, na glória, quando virmos face a face, conexos no amor de Deus trinitário.
As novas formulações serão diferentes, mas a realidade da ressurreição de Cristo e a dos batizados pela água e o Espírito, ou mesmo só pelo desejo de o batismo de união com Cristo, é a mesma que só se conhecerá plenamente quando a vivermos na graça de conexão com a vida divina de ressuscitados.
A doutrina cristã sobre a ressurreição de Cristo e a Incarnação é simples, mas de alcance incomensurável. Ao dizer de Jesus: «Encarnou pelo Espírito, nasceu da Virgem Maria e se fez homem. Padeceu e foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos e ressuscitou ao terceiro dia», cai-se na conta que atravessa o tempo e os espaços, e rompe com as fronteiras misteriosas de tempo-eternidade, da ciência do material e do conhecimento espiritual.
Quando se especula que as pessoas ressuscitadas assumem corpos com dotes gloriosos entende-se que serão corpos espirituais, mas por mais que se diga que são luminosos, sem peso, medida e sensibilidade material, fica sempre o não se saber claramente como são. Não faltam, porém, aqueles que divagam e misturam princípios científicos e tendem ao cientismo e à rejeição da ressurreição.
E que dizer do corpo humano de Cristo ressuscitado do qual o túmulo ficou vazio, (cf.. Mc. 16,1-8)? Terá deixado marcas do The Mystery Man no sudário antes de voltar ao Pai e à glória amorosa invisível aos olhos humanos; e vive nas relações eternas da Trindade. Mas nem essa realidade exclui as relações, vivências e convicções diferentes e místicas entre os dois lados da fronteira humano-divina que a Igreja tem reconhecido na história.
O divino pode sempre irromper no humano. Nem se pretenda vedar a comunhão de fé e graça entre o Criador e as criaturas. O “admirável comércio da Encarnação” entre Deus e o homem não se extinguiu com a ressurreição, embora não saibamos o como dessa conexão e ressurreição na eternidade. Acreditamos que desceu à mansão dos mortos e ressuscitou para viver na Trindade com a sua e a nossa humanidade espiritualizadas na glória celeste.
Funchal, Oitava da Páscoa