Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já… (Pablo Neruda)
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos… (Mário Quintana)
Andei campeando por tantas e inúmeras fotos e fólios dos jornais de antigamente, armazenados na pasta de imagens do Word, no meu computador grande. Segundo Neruda saudades é solidão; um vácuo escavado em nossa mente/vida, por faltas e perdas daqueles aos quais, um dia, dividimos tristezas e alegrias.
Olhar uma foto, onde jovens transparecem e transmitem alegria, advém um misto de nostalgia e solidão. A primeira por rever amigos e conhecidos ainda entre nós, mas por lugares distantes ou alhures; a outra pela passagem da finitude ao eterno.
Já o poeta Quintana, em sua expressão, caracterizou um saudoso – romântico, lembrando o perfil e as linhas perfeitas de um amor, verdadeiro ou platônico. “O vento das horas”, figura emblemática vernacular; A eternidade é um relógio sem ponteiros; o vento, ao mover os ponteiros, empresta o ruído surdo ao esvoaçar dos cabelos da amada.
Libertem-se das amarras do tempo e sigam comigo ao simples recordar as fotos proporcionam. Cataloguei a foto como “Gurias de Montenegro”; Gladis, Celiza, Marta e Jane minhas amigas, quer por conhecimento próprio ou pelos irmãos. Sandra Regina era a filha do seu Manequinha Moraes, que dava livros e cadernos para os alunos. Paulina minha parente distante. Luci era lá dos donos da padaria e a Luchesi, nomes que ainda guardo. Não sei o que o Jaime tá fazendo por aí – de certo porque era bonitinho e irmão da Jane, ambos filhos da dona Dinorá, uma célebre encrespadeira.
Campeando mais um pouco, encontrei a fotografia de uma turma de formandos do curso ginasial – São João Batista. A formatura foi no Clube Riograndense e todos muito bem aprecatados: smooking ou summer, com gravata borboleta e sapatos pretos. Pela indumentária, opção dos próprios estudantes, é perfeitamente possível avaliar a importância da formatura no Curso Ginasial.
Da esquerda para a direita: Lasier Martins, senador na última legislatura; Carlos Eri, Cilon Orth, meu compadre, Francisco Boos, fiquei sabendo que está conosco e mora em Porto Alegre, desconhecido, Velton Goulart, advogado em Novo Hamburgo e Paulinho Müller, médico, de saudosa memória.
Lembranças que nos chegam com a visão de fotos do nosso tempo de juventude. Se esta recordação traduzir solidão, atribuo tão somente, ao fato de observá-las no recôndito em minha sala particular. Não é a tristeza que me invade – salvo pelos que já partiram – e sim o prazer incomensurável de ter vivido naquele tempo, estabelecendo bases aos futuros relacionamentos.
Caminho… /Ao andar…tropeço/ Nas minhas próprias reflexões/ Daquilo que o egoísmo/ Não deixa transparecer…/ Simples metáfora. Na trajetória/ A mente alça o passado/ Ao convívio de tantos/ E de outros tantos/ Ao longo da vida… A passar.
Sou um passageiro/ A cruzar outras dimensões/ No tempo e no espaço/ Alço um voo destemido/ Na esperança/ De um dia te encontrar. Nem que tudo se passe no fictício/
Da minha efêmera existência/ De um pobre sonhador/ A todos é dado o sonho/ As fantasias à mente chegam/ Ao dormir!